A entrevista com Rafael Greca: “Vou expulsar os vendilhões terceirizados da prefeitura”

Rafael Greca, por Gilberto Yamamoto (Gazeta do Povo).
Na entrevista ao jornal Metro, edição desta segunda-feira (11), o pré-candidato do PMDB à  prefeitura de Curitiba, Rafael Greca, elege o prefeito Luciano Ducci, do PSB, como alvo principal de suas ásperas críticas. “Vou expulsar os vendilhões terceirizados da prefeitura”, avisa o peemedebista.

Confira a íntegra da entrevista de Greca:

Rafael Greca quer repetir em 2012 a performance eleitoral que o levou à  prefeitura de Curitiba 20 anos atrás. Naquele tempo, deputado estadual pelo PDT do então prefeito Jaime Lerner no auge de sua popularidade, Greca começou a campanha bem atrás do seu principal adversário, mas chegou na frente com facilidade.

De lá para cá, Greca se elegeu deputado federal. Virou ministro de FHC, perdeu o cargo em meio a denúncias contra o ministério, voltou ao Paraná, passou para o PMDB de seu antes inimigo Roberto Requião, que agora o ungiu como o nome do partido para disputar a prefeitura.

Por que o eleitor curitibano deve votar no senhor?

Em primeiro lugar, pela experiência, comprovada em 6.600 obras, consolidadas em apenas quatro anos de mandato, já que eu fui o último prefeito que não teve direito à  reeleição, porque a Constituição na época não permitia. Deve votar em mim pelos Faróis do Saber, pelas primeiras lan houses públicas do Brasil, pelas Ruas da Cidadania, por causa do Bairro Novo e do seu hospital, por causa dos centros de saúde 24 horas. Deve votar em mim por causa das políticas públicas e sociais, como o restaurante de R$ 1, o Nascer em Curitiba Vale a Vida!, que depois, com outros nomes, foram aproveitados por outros governantes.

Economia

O que o senhor acha que piorou na cidade desde que deixou a prefeitura?

A cidade vem perdendo em qualidade, ausência de inovação, vem se perdendo em querer copiar soluções paulistas naquilo que São Paulo tem de pior. Não nos salva uma ponte estaiada que custe o preço de 13 pontes normais. Não nos salvam piscinões à  paulista. O que nos salva é um programa de macrodrenagem, de dragagem dos rios, de limpeza dos bueiros, de acumuladores de vazão por microbacias. Não nos salva um metrô enterrado de apenas 12,5 km, quando nós temos uma rede metropolitana de transportes de 1.785 km de linhas de ônibus metropolitanas. O serviço público municipal está deixando a desejar.

Como o senhor pretende mudar isso, caso eleito?

Com toda a intensidade do meu amor e da minha paixão por Curitiba. Com toda a eficiência da minha formação sólida. E com toda a alegria de uma pessoa que teve a ventura de ter sido escolhido prefeito tanto pelo Jaime Lerner quanto pelo Roberto Requião, em dois momentos diferentes da minha história. Eu vou voltar agora muito melhor, filtrado pela minha experiência, mais maduro e preparado para fazer o bem para os curitibanos e buscar mais igualdade de oportunidade para todos à  luz do programa social-democrata do PMDB.

Quais são os principais pontos do seu programa de governo?

A primeira coisa é devolver a prefeitura ao nosso povo, diminuir as excessivas terceirizações. Essa prefeitura me envergonha e me entristece, no momento em que morre, depois de 37 horas de espera, o músico Emerson Antoniacomi, no posto de saúde da Boa Vista. Quando acontece uma coisa como esta, com uma família tão boa e tão antiga, e com um moço tão enraizado no meio cultural da cidade, nós todos estamos condenados. Essa condenação não cai sobre o Ducci, que é médico, e por isso devia dar excelência ao serviço médico, cai sobre o modelo terceirizado de atendimento que eles adotaram, inclusive, nas unidades de saúde.

O senhor é contra as terceirizações?

Eu não sou ideologicamente tarado pelo serviço público ou pelo terceirizado. Sou um adepto de Santo Agostinho. A virtude está no equilíbrio. A segunda ideia é dar à s ações de governo uma escala metropolitana composta pelos municípios que estão legitimamente ligados e conurbados com Curitiba: Almirante Tamandaré, Colombo, Campina Grande do Sul, Quatro Barras, Pinhais, Piraquara, São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande, Araucária e Campo Magro. E também temos que dar à  prefeitura, de novo, o seu caráter de inovadora em soluções nacionais. Há todo um mundo de novas energias, de avanço ecológico, e tudo isso ficou estagnado depois que eu deixei de ser prefeito.

O que pode ser feito?

O Cássio Taniguchi, ainda no primeiro mandato, terminou o programa do Banco Interamericano, que nós tinhamos deixado pronto. Depois, houve a mesmice. O prefeito Beto Richa seduziu a cidade com a ideia da Linha Verde, a maior rua do mundo!, que era para ter 20 km e teve só 9 km. Eu não me conformo com a trincheira entre o Jardim Social e o Bairro Alto, que termina num sinaleiro. E com a outra, entre o Jardim Botânico e a Rua Chile, que também termina num sinaleiro. Por que se faz uma trincheira para terminar num sinaleiro? Você não vai gastar concreto, ferro, aço, escavação, para terminar num sinaleiro. Ele precisa só de um poste. Depois, querem nos afogar num buraco de um metrô, cujo projeto será feito pelos empreiteiros que se habilitarem a pegar o bilhão de reais do governo federal, mais o outro bilhão que é a poupança da prefeitura, do Estado, e da iniciativa privada.

O senhor não faria o metrô?

Olha, se vier mesmo esse dinheiro, eu faria um metrô aéreo. Jamais coincidente com a rede integrada de transporte consolidada da cidade.

Como seria o seu metrô?

Com o mesmo dinheiro de 12 km de metrô enterrado, eu posso fazer até 75 km de metrô aéreo. Então, se Deus me der a ventura de R$ 2 bilhões na mão, claro que eu não vou dizer não. A minha ideia é que comece em Araucária, venha pela R. João Betega, passe por cima daquele Museu do Portão, vá pelo meio da Wenceslau Braz, entre na Linha Verde, use, enfim, o meio da Linha Verde, e quando chegar na Av. Marechal Floriano, a gente tira o sinaleiro debaixo do viaduto, vira na Rua Aluísio Finzetto, e entra em direção ao Teatro Paiol e à  Rodoferroviária. Tendo sido feito o traçado até o centro, eu usarei o canal do Belém para ir a São José dos Pinhais e ao aeroporto, e ao remanescente da ferrovia para ir a Almirante Tamandaré, a Itaperuçu e a Rio Branco do Sul, dando uma escala metropolitana.

Vai ter dinheiro para toda essa distância ?

Com R$ 2 bilhões eu acho que faço chover. Eu nunca tive qualquer coisa parecida, nem o Jaime Lerner teve, nem o Roberto Requião, nem Lourenço de Médici, na antiga Florença. O metrô aéreo não tem os custos de escavação, de perfuração de e de contenção de solos podres, que é o caso do solo de Curitiba, da àgua Verde em
direção ao Sítio Cercado e ao Bairro Novo, ao lugar onde nasce o Rio Iguaçu. Essa gente não entende dessa cidade. Há formação de solo Guabirotuba, que dá nome ao bairro, que são pedras que vão se decompondo. Depois há a formação do sabão de caboclo e da turfa, que é o grande solo da parte sul da cidade.

O senhor prevê problemas na construção do metrô?

Eu não vejo porque enterrar. Em Londres enterraram o metrô, em 1854, quando ele foi feito, porque tinham vergonha dos pobres que andavam nos trens, para a burguesia não vê-los. A gente não tem problema nenhum com nosso povo.

Como o senhor vê os gastos de R$ 37 milhões com a reforma da Arena da Baixada?

Nós precisamos tocar as obras da Copa, não devemos sabotá-las, mas nós não devemos também dar à  Copa a licença para todos os roubos. Eu não tenho nenhuma ilusão. Veja, 40 mil lugares numa Copa do Mundo é um Atletiba sem a encrenca das torcidas adversárias. 40 mil lugares em Curitiba é nada, perto do que já aconteceu quando visitou a cidade o Papa João Paulo II. Vieram um milhão de pessoas, e nós não mudamos nada do seu curso. Aliás, 40 mil lugares é bem menos do que eu coloquei na Pedreira nos 300 anos de Curitiba, 80 mil pessoas, tanto no show do José Carreras, como do Roberto Carlos e do Paul McCartney. O Beatle inaugurou meu palco público, que o Ducci agora está vendendo.

O senhor acha que a concessão da Pedreira é um negócio que pode ser desfeito?

Eu não vou gastar minha energia por isso, porque eu sempre serei capaz de fazer outros espaços culturais, mas sou totalmente contra. à‰ um mau negócio para a cidade. Quanto vale esta marca? Quanto vale o nome do Paulo Leminski?

Como é que está a situação da sua candidatura, quando há uma parte do PMDB que insiste em apoiar o Ducci?

Depois do jantar da última segunda-feira, promovido pelo senador Requião, a minha candidatura está de vento em popa e completamente serena. Nós devemos ter, dos 110 votos da convenção, mais de 80. O senador preside o diretório em Curitiba, o vice-presidente sou eu, nós temos a maioria da executiva. Não há movimento contrário dentro do PMDB, o que há são empregos na prefeitura e no governo para alguns companheiros de menos fibra.

O apoio desses companheiros de menos fibra não faz falta?

Nenhuma. Os deputados, em si, não têm voto em Curitiba. O mais votado sou eu. Agora, o que existe hoje em Curitiba é o risco da cidade sucumbir a uma pesada herança, onde a demagogia se soma à  superficialidade e à  ineficácia.

Quem é demagogo?

à‰ o quadro político de Curitiba. Você acha que ser filho de alguém qualifica alguém para um cargo? Só na monarquia. O que o senhor achou das primeiras pesquisas em que aparece em quarto lugar? Nas primeiras pesquisas, 80% das pessoas não tinham escolhido em quem votar, e meu nome nem era posto. Cada pesquisa que se sucede, eles vão encolhendo, e essas últimas Coca-Colas geladas! do mundo vão esquentando, e cada dia nós estamos todos mais próximos. E, de repente, não teve mais pesquisa. Houve um colapso de pesquisas, a partir do momento em que eu comecei a crescer. Eu não tenho medo de pesquisa. Vou vencer esta eleição no primeiro turno. Haverá um reencontro com a minha história.

Esse reencontro não houve na eleição para deputado? Por quê?

Uma eleição para deputado não é uma eleição majoritária, o povo não se liga na eleição para deputado. Agora, você não pode dizer que não fui bem votado, eu tive 32 mil votos, fazendo uma campanha que tinha por único combustível a minha saliva e as minhas ideias. Quando se trata de falar da história da cidade, daí é bem mais fácil.

Há outras prioridades?

Quero cuidar da cidade com aquele espírito que eu aprendi com a Franchette Rischbieter, com a Dulce Auricchio, com o Dario Lopes dos Santos, com os velhos engenheiros da prefeitura, fazer reguladores de vazão para evitar enchentes, desentupir bueiros, devolver à s árvores o seu equilíbrio orgânico. Ter um serviço social atento, para que o centro não se torne uma cracolândia em construção; reabrir a Fazenda Solidariedade, que foi fechada, onde nós podemos albergar até 4 mil pessoas em situação de risco; não despedir ninguém do posto de saúde sem o médico e sem o remédio; ter, de novo, o ônibus da linha sopão percorrendo as praças nas noites de frio, para fazer a filtragem do serviço social. Quero cuidar da cidade voltando para o Ippuc para expulsar os vendilhões terceirizados e organizar lá um colégio novo de gente inteligente capaz de pensar Curitiba acima de suas dificuldades. E quero cuidar das crianças da cidade, que podiam começar a ser alfabetizadas desde os três anos de idade. Nós estamos estudando o modelo finlandês de educação.

Como é esse modelo?

Começa aos três anos e usa a potencialidade da criança, entre três e seis anos, para entregá-la ao primeiro ano já completamente alfabetizada. E a minha visão é de que Curitiba precisa de novas energias no geral. Dar chance para a piazada que quer pedalar.

Investiria em ciclovias?

Imagine se não! Uma criança que quer pedalar, e não poluir, pode e merece todo o espaço.

O senhor tem críticas à s obras do Anel Viário?

De repente, nós vemos destruírem o patrimônio cultural de Curitiba jogando as pedras talhadas a mão, dos velhos pedreiros, como foi meu avô. Dizem que jogam no britadouro da prefeitura. à‰ uma coisa parecida com alimentar sua lareira com violinos. A pedra podia ser guardada para ser reaproveitada num outro espaço urbano. A pedra não é ruim porque é pedra, ela é ruim porque não está assentada. O paver é pior, porque fica desassentado em menos tempo. A pedra levou 47, 80 anos para desassentar. Mas o paver está desassentado em menos de um mês. O Ducci nem inaugurou o tal Anel da Mobilidade e as calçadas dele já têm todas as manchas, todos os buracos, todos os desníveis. Se eu fosse destruir 25 km de calçadas, eu teria feito 25 ou 50 km de ecocalçadas, e faria polidutos para colocar todos estes fios que estão dependurados. A cidade padece de cuidados que já teve. Curitiba sempre foi muito amada pelos seus prefeitos. Desde o Cândido de Abreu, todos os meus antecessores !“ com algumas exceções !“ amaram a cidade. Isso está se perdendo.

O prefeito de hoje não ama a cidade?

Talvez tenha seu jeito de amar, mas eu não percebo nada, nenhum afeto, nenhum carinho. Inclusive, até sou vizinho dele, ali no Batel. A discoteca Liqà¼e liga as suas turbinas de poluição sonora e ambiental, e nos faz estremecer em ecos de Juízo Final até as 5h30 da manhã, sempre das quintas para as sextas-feiras. Parece que Sua Excelência ou tem sono pesado, ou não dorme, ou é baladeiro, porque finge que não ouve a poluição sonora, na zona residencial prioritária do IPTU mais caro da cidade.

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