Derosso se compara a Jesus Cristo e anuncia que disputa reeleição

por Helen Anacleto, via portal Banda B

João Claúdio Derosso (PSDB).
João Cláudio Derosso se define como um completo injustiçado. Há nove meses, o ex-presidente da Câmara Municipal de Curitiba vive no olho do furacão e foge de todo e qualquer contato com a imprensa. Detentor de toda sorte de acusações, o vereador que legisla há 24 anos ostenta o que aprendeu desde que passou a ser peça central do maior escândalo político da história do Legislativo Municipal.

“Tem mais Deus pra dar que o diabo pra tirar”, afirma, em tom tranquilo. Com a mesma postura, ele anuncia que, neste ano, tentará ocupar novamente uma das cadeiras da Câmara.

Desde julho do ano passado, Derosso substituiu os discursos na tribuna da Câmara pelos depoimentos à  justiça. Nesta terça-feira (17), o Ministério Público o acusou novamente. Dessa vez por nepotismo. Resistente, o vereador não quis comentar a ação enquanto esteve no plenário, mas ao ouvir a insistência bater na porta do seu gabinete, não soube dizer não e acabou falando o que quis. Em entrevista exclusiva à  Banda B, Derosso resgatou lembranças, falou de ressentimentos e declarou inocência de todas as acusações pelas quais responde.

Renunciar ao cargo máximo da Câmara Municipal, no último dia 12 de março foi, segundo ele, um retorno à s origens de vereador.

“Ser presidente toma muito o tempo da gente”, explica. O parlamentar destacou que tomou a atitude sem nenhuma pressão do partido, o PSDB, e que só decidiu deixar a presidência por pena dos colegas vereadores, que sofreram hostilidades por sua causa. “Não me senti legal comigo”, emenda.

Derosso teve dois companheiros inseparáveis nos tempos de tormenta. Mesmo pressionado pelo partido, o vereador tinha no governador Beto Richa e no prefeito Luciano Ducci uma base de apoio fora do plenário legislativo.

Economia

“O governador sempre se manteve extremamente companheiro de Derosso. Ele me disse: eu não tenho poder de te julgar, quem vai te julgar é a justiça”, conta.

Calejado, o vereador diz não pretender mais ocupar o cargo que foi seu por uma década e meia.

“Você já sofreu uma desilusão amorosa? Você não foi atrás dela, preferiu seguir seu caminho, não é?”, crava, lamentando as melhorias que diz não poder terminar. “Fazer tantas obras criou nos poderosos uma dor de cotovelo”, justifica.

Novamente alvo de uma investida do Ministério Público, o ex-presidente está sereno e não dá importância ao telefone que insiste em tocar. “Olha aqui, seus colegas”, ironiza, rejeitando os seguidos chamados dos jornalistas. Entretanto, é por meio de uma ligação que ele sabe, pelo advogado, que a justiça não acatou a ação recém-anunciada pelo MP. “Ganhamos mais uma”, comemora ao desligar.

A principal acusação de Derosso é a de ter favorecido a empresa da mulher, Cláudia Queiroz, em um processo licitatório que regulava os contratos de publicidade da Casa. O contrato da agência de Cláudia com a Câmara tinha, em 2006, o valor de R$ 5,1 milhões. Dessa vez, porém, a boa notícia que chegou foi a de que o vereador estaria livre, pelo menos por enquanto, da acusação de ter empregado a sogra e a cunhada no Legislativo.

Passeio pela Câmara

Entre defesas e críticas à  atuação do judiciário, o vereador nos convida a um passeio pelos rincões da Câmara. Nos corredores da Casa que esteve sob seu comando durante incompletos 15 anos, Derosso se sente à  vontade. Cumprimentado com empolgação pelos funcionários, ele desfila simpatia, aperta mãos e distribui sorrisos, sem deixar de abrir as portas pelo caminho.

O vereador não esperava, no ano passado, que seu destino em 2012 fosse alterado de forma tão decisiva. Certo, o posto de candidato a vice na chapa do atual prefeito Luciano Ducci virou página rasgada em sua história após as denúncias de corrupção.

“Como sou pequeno, talvez a minha candidatura a vice-prefeito atrapalhasse os poderosos da mídia”, justifica, comparando-se a Jesus, segundo ele também vítima de injustiça. “Eu sinto como se fosse mais ou menos como há 2000 anos, quando os sacerdotes do templo não queriam uma pessoa do povo”, comenta.

Ao referir-se a si mesmo em terceira pessoa, o parlamentar mostra partes restritas do prédio que abriga os vereadores da capital e, como quem exibe a própria casa a um visitante, revela planos e estratégias para consertar essa e aquela pendência.

“Meu pai foi vereador por 25 anos, eu venho na Câmara desde 1963. Conheço cada canto”, vangloria-se.

Durante a caminhada pelo prédio histórico ainda em reformas, Derosso responde ao questionamento sobre a sua possível participação, mesmo que passiva, na gestão do novo presidente da Casa, revelando a sua preferência.

“O [vereador] João [Luiz Cordeiro] é uma pessoa muito correta. Ele não era meu candidato. Por questões lógicas, eu apoiava o Sabino [Pícolo]”, ressalta. “Ele [Sabino] entende um pouco. O João não entende da estrutura”, completa.

A oposição, que organizou desde um relatório paralelo para a CPI que investigou as irregularidades e deu o golpe final para que o vereador renunciasse à  presidência, não foi poupada das provocações.

“Foram o palco que deram pra eles. Nós sabemos que houve muito dinheiro para que eles fizessem esse ataque contra o vereador Derosso”, dispara usando a terceira pessoa.

De volta ao gabinete, Derosso coloca os óculos, pega a caneta e apresenta as contas referentes à s cifras recebidas pela mulher nos contratos de publicidade. Nada que se aproxime aos mais de R$ 5 milhões pelos quais paga o preço até hoje. O vereador vai até a sala ao lado e, após alguma procura, volta com exemplares do informativo Câmara em Ação, novo em folha, mas com data de publicação fixada em 2006.

Quase uma hora e algumas escadas depois, o vereador se despede com um sorriso, não sem antes deixar clara sua confiança em tempos melhores na casa que escolheu como sua. “Nunca teve ato secreto, dinheiro desviado, não vão achar nada disso”, acredita.

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