“Conexão uruguaia” de Petraglia deu prejuízo de R$ 69 mi ao Atlético

por André Pugliesi, via Gazeta do Povo

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à€s vésperas da eleição para presidente do Atlético, marcada para quinta-feira, a chapa Paixão pelo Furacão traz à  tona documentos e contratos que indicam péssimos negócios realizados por Mario Celso Petraglia à  frente do clube.

Os papéis foram obtidos com exclusividade pela Gazeta do Po!­!­vo e apontam uma triangulação entre o Rubro-Negro e o Rentistas, associação minúscula de Mon!­!­te!­!­vidéu comandada pelo empresário Juan Figer.

De acordo com as certidões contratuais, duas negociações!“ ocorridas há mais de uma década !“ fizeram jorrar cerca de US$ 18,3 milhões nos cofres dos Bichos Co!­!­lorados (apelido da equipe uruguaia) graças à  parceria com o ho!­!­mem-forte atleticano. Lucro equivalente hoje a R$ 69,4 mi!­!­lhões que po!­!­deria ter reforçado a receita na Bai!­!­xada.

A denúncia faz parte do fogo cruzado político na Arena. A disputa para suceder Marcos Malu!­!­celli e comandar o clube pelos pró!­!­ximos três anos !“ período que en!­!­globa os preparativos para a Copa do Mundo no Brasil !“ apresenta ataques de ambos os lados. Ontem à  tarde, o grupo CAP!­!­Gi!­!­gan!­te, liderado por Petra!­!­glia, levantou suspeita sobre a vinda do atacante Morro García. A transação, segundo os opositores, seria lesiva aos co!­!­fres atleticanos.

Entre as negociações denunciadas pela Paixão pelo Furacão está a do lateral-direito Alberto, firmada em 1999, uma síntese da conexão uruguaia. O jogador deixou a Bai!­!­xada rumo ao Rentistas como destaque da jornada que levou o Fura!­cão à  sua primeira Liberta!­!­dores, na conquista da Seletiva. O contrato entre as partes pela cessão do atleta é do dia 10 de dezembro e estabelece o pagamento de US$ 1,5 milhão, dividido em duas parcelas de US$ 750 mil.

Economia

Vinte dias depois, os uruguaios venderam o atleta por US$ 6,6 mi!­!­lhões, para a Udinese-ITA, valor re!­!­gistrado em um comunicado oficial da Federação Italiana de Fute!­bol, de número 507, emitido dia 27 de junho de 2001. Mesmo sem ter vestido nem uma vez se!­!­quer a ca!­!­misa colorada, o ala reconhecido pelos cruzamentos envenenados valorizou cerca de 440%.

A condição de entreposto do Ren!­!­tistas já foi matéria de investigação da CPI do Futebol, deflagrada entre 2000 e 2001, e terminou tachada como uma manobra para burlar o pagamento de impostos no Brasil !“ os clubes se aproveitavam, ainda, do trânsito livre de Fi!­!­ger no mercado da bola.

Além de Alberto, outras revelações atleticanas trilharam o caminho dos Pampas antes de conhecer a Europa. Caso de Lucas. Desta vez, o carimbo do Rentista surgiu logo em seguida da contratação do atacante !“ junto ao Botafogo-SP, em 1998 !“, quando ele ainda buscava um lugar no CT do Caju.

Lucas chegou como parte de um pacote!, vindo de Ribeirão Preto, na companhia do zagueiro Gustavo e do volante Cocito !“ am!­!­bos também fariam história no Atlético como titulares do título brasileiro em 2001. O avante teve adquirido 100% de seus direitos por R$ 600 mil, no dia 20 de abril de 1998. Os dois defensores custaram menos: R$ 400 mil cada.

Menos de quatro meses depois, dia 10 de agosto, o Rentistas compraria 50% do trio de promessas. Para ter participação sobre Lucas, precisou desembolsar R$ 500 mil. Quase dois anos depois, no dia 25 de julho de 2000, o camisa 9 acabou transferido para o francês Ren!­!­nes, na transação mais cara de todos os tempos do futebol brasileiro: US$ 21 milhões, cifra divulgada amplamente pela imprensa na oportunidade.

Como de costume, o Rentistas também se deu (muito) bem com a saída do autor do gol inaugural da Arena. Um dia antes da partida de Lucas para a pequena cidade de Ren!­!­nes, a duas horas de Paris, os uru!­!­guaios arremataram os outros 50% do atleta, ao custo de US$ 7,5 milhões.

Fazendo os cálculos !“ incluindo todas as idas-e-vindas do atleta e considerando a cotação do dólar na ocasião !“ o Atlético faturou algo em torno de R$ 13,4 milhões ao desfazer-se de seu avante. Já o parceiro arrecadou cerca de R$ 23,7 milhões. Lucas jamais pisou nas canchas enlameadas de Mon!­!­te!­!­vidéu.

Nos contratos, não há a assinatura de Petraglia, que atendia co!­!­mo diretor de marketing do clube, então presidido por Ademir Adur. Constam as rubricas de Alberto Ma!­!­culan, diretor superintendente, e Maria Aparecida Gon!­!­çalves, diretora financeira. Petra!­!­glia, conforme noticiou a Gazeta do Povo à  época, ciceroneou Lucas na chegada ao Velho Mundo.

Ao longo do período em que Pe!­!­traglia ditou as regras no Caldeirão, mais transações foram acertadas com a participação do Rentistas !“ mesmo após ter visto a agremiação de Figer levar a melhor. Entre elas, a do lateral-esquerdo Fabiano, a do volante Cocito, a do meia Adriano e a do atacante Alex Mineiro. Todos passaram pela conexão uruguaia antes de sair do país.

Rentistas é laranja! em negociações

Fundado em 1933, o Club Atlético Rentistas ganhou notoriedade ao se tornar entreposto de jogadores para negociações ao exterior. Em virtude da ligação com o empresário uruguaio Juan Figer !“ atuante no Brasil desde o fim dos anos 60, e que também controla o Central Espaà±ol-URU para os mesmos fins !“, o time vermelho acostumou-se a lidar com somas astronômicas de dinheiro.

O status de clube de ponta no campo das negociações, no entanto, não alcança o futebol. Na bola, o Bichos Colorados possui histórico para lá de humilde. Tem apenas um título da Terceira e quatro da Segunda Divisão uruguaia. Destes, o último levantado neste ano, conquista que o fez retornar para a elite charrua, algo incomum em sua história de nenhum brilho técnico.

Oriundo do bairro humilde de Cerrito de La Victoria, o time manda suas partidas no Complejo Rentistas, estádio com capacidade para 10 mil pessoas, com jeitão da suburbana curitibana. Atualmente, um brasileiro integra o elenco, o atacante Wanderson Silveira, de 22 anos. (AP)

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