Fruet elogia PT em entrevista à  Veja

Fruet: dividido entre PV e PDT, de olho em alianças com a base governista.
via site da Veja

Quando foi deputado federal pelo PSDB !“ entre 1999 e 2010 -, Gustavo Fruet marcou terreno como um bastião no combate aos desmandos do governo do PT. Com o discurso da moralidade, integrou a Comissão de à‰tica da Câmara e Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) – como a dos Correios, que investigou o escândalo do mensalão.

Apontado como uma das promessas da nova geração de políticos brasileiros, Fruet não foi eleito senador pelo Paraná em 2010 e, após perder espaço no PSDB para disputar a prefeitura de Curitiba em 2012, resolveu deixar o partido. Fruet repete ato de 2004, quando, sem espaço dentro do PMDB, migrou para o PSDB.

Em entrevista ao site de VEJA, o ex-parlamentar nega a possibilidade de se tornar petista, mas não descarta alianças com a legenda do governo e rasga elogios ao PT. Ao PSDB, restam críticas: à‰ bíblico: seja quente ou seja frio, se for morno, eu vomito. A oposição atual está morna.! Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida por telefone, de Curitiba:

O fato de o senhor não ter apoio para se candidatar à  prefeitura de Curitiba determinou sua saída do PSDB? A definição de candidatura geralmente se dá em 2012, mas não posso ficar na inércia. O partido na capital não se reúne. Eu pedi a realização de convenção ou prévia. Conversei com Beto Richa [governador do Paraná, do PSDB], ele concordou comigo, mas houve uma reação muito forte do grupo ligado à  prefeitura. E esse processo ficou sete meses sem definição. Não dá, de novo, como no Senado, para a decisão ser tomada na última hora. Não é justo com a cidade.

Eu falei que o silêncio seria uma resposta. E estabeleceu-se um silêncio constrangedor. Falaram que resolveriam a questão em vinte dias, depois em trinta dias, e o prazo foi se esgotando. Avaliando os cenários, vetos e esse silêncio do PSDB, resolvi sair. Não é uma decisão que se comemore. Não fiz com satisfação. à‰ natural e previsível que os partidos tenham posição, mas no Brasil cada eleição é um parto. Prevalece o interesse local. Não me arrependo de nada. Dediquei-me à  política nacional, mas perdi sustentação na política local. A omissão na vida pública é tão grave quanto a ação.

Economia

O senhor sentiu-se traído? Não, acho essa uma expressão muito forte. Não tenho ressentimento. Mas fiquei triste, é claro. à‰ nessa hora que a gente tem que mostrar firmeza. A vida política partidária no Brasil é autofágica. Não tenho romantismo ou ingenuidade de imaginar que isso vai ser diferente da noite para o dia, mas é preciso pelo menos criar um fórum de debate. Eu tinha respaldo para sair candidato: nas duas últimas eleições para deputado e senador fui o mais votado da capital, para o Senado, cheguei a conquistar 69% dos votos na capital. Nas pesquisas para prefeitura eu saí na frente. Eu sempre disse que ia trabalhar para ser prefeito da capital. Como eu simplesmente vou dizer que não sou candidato? Se faço isso, passo a mensagem de que ou estou com medo ou negociei. Eu não posso simplesmente abrir mão de uma candidatura.

Quais são os principais problemas do PSDB? à‰ a primeira vez que a oposição não tem número de parlamentares suficiente para propor uma CPI e isso não é bom nem para o governo nem para o equilíbrio de forças. O PSDB tem grandes quadros, pessoas com capacidade de iniciativa e negociação. Mas não se constrói um projeto sem dor e sem clareza de onde se quer chegar. Não se faz política só na contemporização. à‰ um erro o PSDB imaginar que vai crescer apostando no desgaste do governo e ficar na expectativa de tirar da órbita do governo alguns partidos que possam compor aliança com o PSDB. Não se casa o projeto nacional sem sintonia e identidade com o local. Então ele depende de ter um nome muito forte em 2014 ou de um grande desgaste do governo para ser um voto de repúdio. Acho que o PSDB está refém dessa lógica.

A que o senhor atribui sua derrota na disputa ao Senado em 2010 e o silêncio do PSDB sobre sua candidatura à  prefeitura em 2012? Faltou voto e organização. Achei uma loucura isso que aconteceu com José Serra. Ele teve que brigar para ter um conselho político no PSDB. Ele fez 44 milhões de votos, poxa. Mas na política é mais ou menos assim: quem tem mandato tudo bem, mas quem não tem é lixo. A gente conta a história só pelo sucesso da última eleição. Ora, não se constrói um partido assim! Para mim, o maior exemplo é Lula, que deve ter tido brigas homéricas no PT, mas o partido investiu nele, acreditou e ele acabou se tornando presidente.

Há um divórcio do PSDB nacional com os diretórios locais? Sim e a análise é objetiva. Onde o PSDB tem candidatos competitivos nas capitais brasileiras? Vou além: quais são as novas lideranças nacionais do PSDB, excluindo o Aécio? Como se formam quadros para o país? Qual a nova geração de líderes e ideias do partido? E o PSDB ainda depende muito de uma figura que foi desrespeitada por muito tempo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Até parece contraditório, mas falo isso em respeito a ele, mas como crítica a essa dependência que o partido tem dele para ter uma linha de ação e uma identidade nacional.

Também falta identidade e unidade de ideias no partido? Sim, e isso não se constrói sem dor. O PSDB por muito tempo não defendeu sua herança. Tem uma nova geração que defende suas demandas. A gente não pode ficar nessa dicotomia Lula x Serra. Qual o projeto futuro do partido? O PSDB tem que tomar uma decisão. à€s vezes tem que diminuir para ganhar consistência. O que não pode é querer agradar a todo mundo o tempo inteiro. Tem que aprender a dizer não. Vai se perdendo a lógica da composição local, perdendo bancada e representação no Congresso. Isso é um sinal muito forte. A postura a nível nacional tem que ser a mesma do menor bairro do menor distrito. Senão, por que esse representante do partido lá no interior vai defendê-lo? Ele sai em defesa e no dia seguinte, pelo pragmatismo de quem controla o cartório do partido, é feito um acordo com o adversário.

O que o partido deve fazer para sair desse inferno astral? No curto prazo não sei. Mas precisa de um projeto eleitoral consistente, permanente, ter bandeiras nacionais, marcas que identifiquem o partido, não só o tucano. Definir se o discurso é social, responsabilidade fiscal, geração de emprego, crescimento econômico ou educação. O que marca o partido hoje e quem verbaliza isso? O debate está marcado só pela disputa Serra versus Aécio, mas tem que ter algo mais.

Quais partidos convidaram o senhor a se filiar? Por incrível que pareça, o único partido com que conversei foi o PV, com uma deputada federal daqui do Paraná chamada Rosane Ferreira. E falei rapidamente com o ex-senador Osmar Dias, do PDT. Mas eu sei bem para onde não ir e com quem não conversar: PMDB e PT. Não que não haja possibilidade de coligação mais à  frente, mas pela história da política local e pelas minhas posições. E qual partido daqui hoje não está na base do governo do Paraná ou o federal? Nenhum. Então tenho que ir para um partido que tenha o mínimo de identidade com as posições que eu adotei até hoje. Não tem muita opção, não. Devo me dedicar a esse diálogo em agosto. Agora estou em um momento de reflexão.

O senhor cogita a possibilidade de ir para o PSD, que está sendo criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab? Beto Richa pediu para Kassab não me apoiar. O PSD hoje tem lideranças importantes daqui do estado, ligadas ao PSDB e ao PSB no município. Não foi nem o Beto nem o Kassab que me disseram isso. Lá atrás o Kassab chegou a me convidar para ir para o PSD. Mas agora não houve mais essa conversa.

O PT manifestou a intenção de apoiá-lo em uma possível candidatura a prefeito. Não conversei com o PT, somente vi declarações públicas do secretário de Comunicação, André Vargas, e do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. O PT está no processo de discussão interna, se terá ou não candidatura própria e quais são os possíveis candidatos. à‰ o tipo de debate que não adianta querer adiantar agora, há que se respeitar o tempo dos partidos. Então o que pode acontecer no ano que vem, se não houver uma aliança no primeiro turno, é uma possibilidade de diálogo visando o segundo turno. Coloco como uma hipótese. Mas é uma coisa para se avaliar com pesquisas, se haverá clima para essa aproximação.

Então o senhor está dividido entre ir para o PV ou para o PDT? Sim. Não há muita opção mais. Pena que Marina Silva saiu do PV…

O senhor tem identificação com a causa ambiental? A agenda da campanha vai ser muito a do Partido Verde. A pauta deles vai ser prioritária para qualquer candidato de Curitiba, não é exclusiva. Eu votei muitas vezes com o PV, como no estatuto das cidades e na política nacional de resíduos sólidos, e tinha uma ação muito próxima a de Fernando Gabeira na Câmara dos Deputados.

Portanto, mesmo que o senhor não se filie ao PV, vai querer o ter como aliado? Sem dúvida, vou trabalhar muito para que isso aconteça. A conversa com eles foi muito boa. Fazia tempo que eu não tinha uma conversa tão política. Eu também não estou obcecado em ter muito tempo de TV. Já tenho uma identidade que fui criando ao longo dos anos, mas preciso de um mínimo de tempo para a eleição, de três a quatro minutos para o programa eleitoral. Coisa que o PV não tem.

Então o PDT teria mais possibilidade? Bom, tem que ver as coligações, né? Acho que dois ou três partidos comporiam esse tempo. Mas minha decisão vai ser pautada por quatro itens: identidade, tempo de TV, futuro e capacidade de construir alianças. O Neville Chamberlain [ex-primeiro ministro do Reino Unido] dizia: Na política, nunca reclame, nunca se justifique e nunca peça desculpas!. Então toda vez que eu penso em um partido vejo se vou ter que responder a alguma dessas questões. De qualquer forma, não dá para ser taxativo ainda.

E como estão as negociações com o PDT? Não tive esse diálogo ainda, agora que vou ter. Conversei com algumas pessoas aqui na capital, mas vou conversar agora com o Osmar Dias e o Carlos Lupi [ministro do Trabalho e presidente do PDT].

Mas o PDT faz parte da base aliada do governo Dilma. Isso pode ser um impedimento? Isso tudo terá que ser avaliado. Agora, eu não tenho alternativa. Porque ou é PSD e DEM, que apoiam o governo local, ou um partido que apoia o PT em nível nacional. Os deputados do PDT aqui apoiam o governo na Assembleia Legislativa e os vereadores apoiam o prefeito, que é do PSB. Percebe a situação?

O senhor disse que um critério é o futuro, logo, se o senhor entrar no PDT, em 2014 estará no partido que apoiará a reeleição de Dilma. Para você ver como é uma decisão difícil. A minha outra opção é não disputar mais a eleição, porque em qualquer cenário tenho dúvidas. Eu gosto muito de política, essa é minha vocação. Mas até onde eu vou? O pior é perder a identidade. Por isso lamentei muito o que aconteceu no PSDB. à‰ honesto um partido, numa cidade que tem um candidato em potencial, vetar que ele assuma a presidência da legenda na capital e não apoiar sua candidatura? A opção é ir para casa.

Como o senhor avalia os sete primeiros meses do governo Dilma? à‰ um governo de continuidade, não teve nenhuma grande alteração. à‰ cedo para avaliar o impacto da postura dela. Ela mostrou que não tem meio termo, mudou toda a equipe do Ministério dos Transportes, o que não acontecia no Brasil há muito tempo. Ela tem esse perfil gestor, difícil de comparar com o ex-presidente Lula. Ele tinha autoridade pela força popular. Ela vai ter que ter pela gestão. Mas o custo político dessa mexida a gente só vai saber quando tiver uma votação importante no Congresso ou uma aliança lá na frente. Ela ainda está bem avaliada pela população, mas não sabemos como ficará isso em Brasília.

Que vantagens o senhor apontaria no PT em comparação com o PSDB? A vinculação com a sociedade, disputa interna acirrada, mas aberta, tem convenção periódica, tem prévia, tem unidade de votação, identidade. Qual outro partido faz isso? Há quem ame e quem odeie, mas é porque o PT tem identidade. Quando tem que tomar uma decisão no projeto nacional, é uma briga constante com aliados, mas trabalha no projeto nacional. Por isso o PT tem crescido e o PSDB tem se esvaziado. Quais são os parlamentares que efetivamente têm uma postura de oposição no Congresso Nacional? Basicamente só o Duarte Nogueira [líder do partido na Câmara] e o àlvaro Dias [líder no Senado]. Isso vai gerando uma acomodação. à‰ bíblico: seja quente ou seja frio, se for morno, eu vomito. A oposição atualmente está morna.

O senhor trocou duas vezes de partido. Teme ser taxado como alguém que age por interesses políticos? No PMDB eu participei de cinco convenções, denunciei todos os desvios e ganhei a ação na Justiça. A gente fala de fidelidade partidária no Brasil, mas quais são as regras? Nem me refiro à s escritas, mas à s de convivência. Se a gente não reage, passa por conivente ou frouxo. Se sai, também corre o risco de parecer interesseiro.

Se em 2014, o senhor estiver em um partido aliado a Dilma, apoiaria Aécio Neves? Eu diria mais: e se houver uma coligação do PSDB com o PDT lá na frente? Acho que o Aécio trabalha com esse cenário.

Mas o senhor não apoiaria o Aécio em uma candidatura à  Presidência? Imagina! Opa! Ele até me ligou quando saí do PSDB. Nós nos damos muito bem, gosto dele, mas eu não sei como vai ser o cenário das composições lá na frente e qual vai ser o reflexo da eleição municipal no cenário nacional.

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