Derrotamos a máquina do Estado, diz presidente eleito da Fiep

por Fábio Linjardi, via O Diário

Campagnolo diz, no entanto, que resultado da eleição na entidade não afetará relação com o governador Beto Richa (PSDB).
Presidente eleito da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo, não poupa críticas ao adversário na disputa encerrada na última quarta-feira, o secretário de Estado da Indústria e Comércio, Ricardo Barros.

Mesmo a diferença de votos, 69 a 21, não foram suficientes para amenizar o desgaste que ele relata ter sofrido nas eleições.

Segundo Campagnolo, Ricardo “forçou a barra”, ao supostamente utilizar a força do governo do Estado para, nas palavras do presidente eleito, “tomar posse” da entidade.

O resultado do comportamento de Ricardo nas eleições da Fiep, de acordo com Campagnolo, pode resultar em “uma resposta no futuro”.

O presidente eleito já dá o recado: por ele, o secretário de Indústria e Comércio do Paraná deveria ser ocupado por alguém “alinhado” ao setor produtivo.

Economia

Campagnolo assume o lugar do empresário Rodrigo Rocha Loures, seu aliado nas eleições, que esteve por oito anos à  frente da entidade. A posse será no dia 3 de outubro. A entidade representa 42 mil indústrias do Estado, que são responsáveis por cerca de 800 mil empregos.

O orçamento a ser administrado é de R$ 420 milhões. O presidente eleito diz que o primeiro desafio será unir os sindicatos que divergiram durante a disputa e aproximar a federação dos governo estadual. Um apaziguamento que pode não ser fácil, como mostra a entrevista abaixo.

“A Fiep mostrou no voto qual que era o grau de insatisfação de concorrer com um candidato chapa branca. Um candidato oficial do governo do Estado.”

“O que acho que seria um bom gesto do governo talvez fosse que ele pedisse ao setor da produção, no caso ao G8, que fizesse a indicação de um secretário alinhado””

A seguir, leia a íntegra da entrevista de Campagnolo:

O Diário – Como o senhor avalia o processo eleitoral que a Fiep acaba de passar?

Edson Campagnolo – Foi muito tumultuado. Criou-se um ambiente, digamos assim, ruim, porque não foi um debate de ideias. Houve a pressão de um candidato que insistia em tomar posse da entidade. Ele não queria concorrer, como se essa entidade pudesse ser loteada como uma secretaria de Estado. Mas a Fiep mostrou no voto qual era o grau de insatisfação de concorrer com um candidato chapa branca. Um candidato oficial do governo do Estado. Sabemos que o governador diretamente pode não ter entrado na campanha, mas, se alguém fala em nome do governador e ele não se manifesta para contrariar essa pessoa, podemos dizer que está havendo uma concorrência desleal.

O Diário – Quando o senhor fala que houve pressão, quer dizer de que tipo?

Edson Campagnolo – Especificamente para a minha pessoa, enquanto candidato, não houve pressão alguma de forma direta. Mas para os meus eleitores, tanto da minha chapa como dos demais sindicatos que têm direito a voto, houve telefonemas, visitas, pressões externas ao meio industrial. Essa foi uma grande pressão desencadeada pelo Ricardo Barros, que estava licenciado do cargo de secretário de Estado da Indústria e Comércio, mas usou a máquina do Estado em seu favor. Quando chegou a hora das urnas, a resposta foi dada de forma expressiva.

O Diário – Houve relatos de que havia câmeras escondidas no local de votação. Essa situação será apurada?

Edson Campagnolo – Acho que houve uma desinformação. A sala de votação é uma sala de reuniões da diretoria e tem dois televisores de LCD, para que possamos ver apresentações em Power Point. Um fiscal do Ricardo Barros pediu que esses televisores fossem cobertos com plástico preto, o que foi feito.

Depois, para a surpresa dos diretores da mesa de votação, saiu a informação, num blog oficial do governo, que tinha câmeras escondidas naquela sala. A sala está lacrada, e chamei uma perícia técnica para mostrar que isso não procede.

E, afinal de contas, com uma vitória de 69 a 21 votos, e com a gente sabendo que poderíamos ter mais porque tivemos cinco impugnados, não haveria motivo para se fazer uma ação irresponsável dessas. Houve um mal entendido e, sem sombra de dúvida, uma má intenção de alguma parte, que certamente pode ser superada por uma perícia técnica a qualquer momento.

O Diário – Como fica agora a relação da Fiep com a Secretaria de Estada da Indústria e do Comércio, depois de uma eleição dessas?

Edson Campagnolo – Vamos manter um ambiente favorável junto ao governo Beto Richa (PSDB), uma vez que nós sempre defendemos o crescimento do Paraná. Somos uma entidade que representa um terço do Produto Interno Bruto paranaense, com 42 mil indústrias e 800mil empregos. Então, absolutamente não vejo nenhum tipo de dificuldade. O momento eleitoral já passou. Agora vamos nos aproximar do governo do Estado.

O Diário – Essa divergência com o governo que, como o senhor disse, teria tentado tomar posse da Fiep, pode ter consequências nas próximas eleições políticas. No ano que vem tem disputa para prefeito, dois anos depois volta a se disputar o governo do Estado. Haverá reação das entidades?

Edson Campagnolo – Não creio. Acho que o Ricardo Barros foi muito contundente, muito incisivo. Criou uma antipatia da classe industrial. Na minha avaliação, talvez isso não alcance o governador, mas já diretamente o secretário Ricardo Barros eu creio que sim.

Isso porque ele foi muito forte na defesa de sua candidatura, e isso deve surtir algum impacto. O Ricardo é um político hábil, já foi prefeito, já foi deputado federal, concorreu ao Senado. Talvez ele consiga fazer do limão uma limonada. Mas que ele forçou um pouco a barra em cima do empresariado, isso ele forçou.

E pode receber uma resposta no futuro. Não desejo isso a ele , só estou fazendo uma avaliação com base naquilo que a gente ouviu, devido a maneira com que ele conduziu a sua candidatura .

O Diário – A Fiep cogita pedir a troca de secretário da Indústria e Comércio?

Edson Campagnolo – Acho que não compete a nós pedir a troca do secretário da pasta da Indústria e Comércio ou de qualquer outra secretaria. O que acho que seria um bom gesto do governo talvez fosse que ele pedisse ao setor da produção, no caso ao G8 (que integra a Fiep, Faep, Fecomércio, Fetranspar, Faciap, Ocepar, ACP e Famepar) que fizesse a indicação de um secretário alinhado. Mas nós não podemos impor isso, acho que compete ao governador nomear o seu secretariad

O Diário – O senhor é da área têxtil, que representa um importante setor da indústria aqui na região noroeste. E um problema que tem afetado diretamente essas empresas é o baixo preço do dólar, que tem inundado o mercado de produtos chineses. Apesar de ser uma situação de câmbio, existe algo que a Fiep pode fazer para minimizar o impacto?

Edson Campagnolo – Claro que essa é uma questão de macroeconomia, foge da nossa esfera, mas estamos nos mexendo. Tem uma alíquota diferenciada para o setor do vestuário da indústria paranaense. Recentemente, tivemos um decreto de lei que dava uma redução no ICMS para o setor. Daí essa isenção foi suspensa por um período, depois voltou a vigorar e agora venceu no último mês de julho.

Já foi feito um estudo com técnicos da Receita Estadual e da federação das indústrias que mostrou que a não manutenção dessa redução de ICMS torna o setor têxtil menos competitivo do que já está. O secretário da Fazenda do Paraná, Luiz Carlos Hauly, já está com esse estudo em mãos. Tanto a Fazenda como o governador devem anunciar a manutenção desse incentivo, que ainda é pouco.

Há mais que isso. O setor do vestuário tem uma carga tributária superior a 30%, enquanto que para o importado é inferior a 10%. Então, realmente é algo muito perigoso para a economia local, podemos sofrer muito com isso. Essas medidas que foram anunciadas no dia 2 pelo governo federal, também conhecido como o “pacote do bem”, talvez ajude.

O Diário – à‰ o “Brasil Maior”, que prevê uma série de subsídios. Como o senhor avalia?

Edson Campagnolo – São medidas que podem nos tornar mais competitivos tanto internamente como externamente. Não estou totalmente inteirado desse pacote, mas só o fato de o governo estar fazendo isso indica que a nossa demanda, através da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, a Abit, tem sido atendida. Faço parte de um conselho nacional da Abit, já fizemos várias audiências públicas sobre a necessidade de melhorias.

Inclusive o deputado Zeca Dirceu (PT) é o líder da nossa bancada paranaense . Então, acredito que esse pacote deva atender em parte as reivindicações , mas precisamos voltar a ficar em cima das questões das reformas fiscais para que a a gente passe a limpo essa questão da reforma tributária fiscal. Precisamos de uma justiça tributária e fiscal, com urgência, aqui no Brasil.

O Diário – Qual o próximo passo da Fiep?

Edson Campagnolo – Essa nova presidência trabalha pela unidade. Pretendemos unir todos em um mesmo interesse que é o crescimento. Outro ponto dessa união é trabalhar junto com os governos do Estado e Federal para que o Paraná continue sendo essa força que é na economia brasileira, e para que a gente consiga os investimentos necessários para a infraestrutura logística tão importante para que a gente consiga manter aqui as nossas indústrias.

Deixe um comentário