Urna eletrônica, kriptonita de Bolsonaro, surge a nova versão para as eleições 2022

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) jura que a nova urna eletrônica surgiu mais moderna e mais confiável para 2022. A promessa da corte é que o equipamento seja mais rápido, seguro e inclusivo.

Segundo o TSE, a nova urna eletrônica traz uma série de inovações que agiliza a identificação do eleitor, facilita o trabalho dos mesários com a possibilidade de, futuramente, uma pessoa votar enquanto a seguinte já é identificado.

Kriptonita para o presidente Jair Bolsonaro (PL), que ataca o sistema de votação, as urnas eletrônicas foram implementadas no Brasil a partir das eleições municipais de 1996, que permaneceu o mesmo por muito tempo. Embora a aparência da urna que os cidadãos encontram nas seções eleitorais seja praticamente a mesma nesses 25 anos, por dentro ela sofreu modificações e melhorias importantes já a partir de 1998. E não parou por aí: em 2000, 2002, 2004, 2006, 2008, 2009, 2010, 2011, 2013, 2015 e 2020, a segurança embarcada nos modelos da urna eletrônica também ficou ainda mais robusta.

Nas Eleições Gerais de 2022, uma boa parte do eleitorado terá a oportunidade de conhecer a mais nova versão da urna eletrônica, a primeira a ter uma aparência diferente desde que foi criada. A UE2020 contará com uma série de possibilidades de acessibilidade e segurança, que, além de garantir uma proteção ainda maior ao sigilo e à integridade do voto, também abrirá caminho para que o exercício do direito constitucional ao sufrágio esteja ao alcance de todas e de todos.

Nova aparência

As inovações da UE2020 começam já na construção física. Ela possui baterias que não demandam recargas a cada quatro meses de armazenamento e que têm vida útil mais longa, o que diminui custos de manutenção. Também passa a usar pen drives como mídias de aplicação, o que facilita a logística. O processador é mais rápido e o teclado possui duplo fator de contato, que permite detectar erros em caso de mau contato ou curto-circuito na tecla.

Economia

Também é possível acoplar um equipamento para que, um dia, eleitores tetraplégicos possam votar por meio do movimento dos olhos e da boca. “É um teclado virtual, um dispositivo acoplado à urna que permite que o eleitor consiga votar sem auxílio e sem precisar tocar na urna eletrônica”, projeta Rafael Azevedo, coordenador de Tecnologia Eleitoral do TSE.

Além disso, o perímetro criptográfico do modelo UE2020 foi certificado pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP Brasil. Isso significa que um laboratório certificado pelo Instituto Nacional de Pesos e Medidas (Inmetro) – no caso, o Laboratório de Aplicações Tecnológicas para o Setor Produtivo Industrial (Laspi), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – fez uma avaliação do programa embarcado e do código-fonte e verificou que estes atendem plenamente aos requisitos do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), que define as regras da ICP-Brasil.

O algoritmo criptográfico da urna também foi trocado para o tipo E521, ou EdDSA, considerado um dos mais apurados atualmente disponíveis. “Esse algoritmo foi melhorado e é uma das poucas convergências da comunidade de criptografia do mundo”, explica Rafael.

Facilidades e possibilidades para mesários

O terminal do mesário no modelo UE2020 foi totalmente reformulado. Agora, ele não tem mais teclas, possuindo uma tela sensível ao toque, como se vê em smartphones e tablets. Isso possibilitará que, no futuro, a foto da eleitora ou do eleitor também apareça na tela quando a identificação biométrica for realizada.

O novo modelo do terminal do mesário permite ainda maior celeridade no processo de votação, porque o processamento da biometria acontecerá com maior rapidez. Ainda será possível iniciar o processo de identificação da próxima pessoa da fila enquanto a anterior ainda estiver votando.

Essas são melhorias que serão muito bem-vindas por mesários e mesárias, como a professora Adelma Tenório, de Portel (PA). Ela conta que o trabalho na seção eleitoral sempre foi muito tranquilo, “mas tem essa questão de, às vezes, atrasar” [a identificação biométrica]. “Tem aquele tumulto que de vez em quando demora”, lembra.

Para ela, a nova tecnologia no terminal do mesário pode facilitar muito o trabalho no dia da votação. “As coisas vão ser bem mais fáceis para nós que somos mesários e, principalmente, para as pessoas que se fazem presentes no dia da eleição”, comemora.

Dois modelos

A UE 2020 não será o único modelo a ser usado nas Eleições de 2022 – foram adquiridos cerca de 225 mil urnas desse tipo para uso no pleito do ano que vem. Entre as 577.125 urnas que serão utilizadas, incluindo as chamadas urnas de contingência (usadas para substituir as que apresentarem problemas), cerca de 73 mil serão do modelo 2009, quase 118 mil serão do modelo 2010 e outras cerca de 35 mil serão do de 2011. Haverá ainda equipamentos de 2013 (30.142) e 2015 (95.885).

Embora a UE2020 e os demais modelos tenham aparências diferentes, todos são urnas eletrônicas oficiais da Justiça Eleitoral e apresentam os requisitos de segurança e legitimidade para receber e apurar com fidedignidade a manifestação da vontade popular expressada por meio do voto.

Um general no TSE

O general da reserva do Exército Fernando Azevedo, que comandou o Ministério da Defesa de Bolsonaro até março passado, vai assumir em fevereiro de 2022 o posto de novo diretor-geral do TSE.

O cargo do militar é uma espécie de “gerente” da Corte Eleitoral, com a missão de cuidar de licitações e lidar com questões administrativas, além de ter sob o seu guarda-chuva a secretaria de tecnologia, responsável por desenvolver softwares utilizados pelo próprio tribunal.

A chegada de Azevedo coincide com o início da gestão do ministro Edson Fachin, que vai presidir o TSE daqui a dois meses.

O general vai seguir no cargo durante as eleições, quando o TSE será comandada pelo ministro Alexandre de Moraes — o nome foi acertado entre os dois magistrados.

Fernando Azevedo já foi assessor especial do Supremo Tribunal Federal (STF) durante a gestão do presidente Dias Toffoli, que buscou na época estreitar as relações com as Forças Armadas em meio à onda bolsonarista que varreu o país nas eleições de 2018.