O fino e transparente véu sobre a nudez de Temer

Enio Verri (PT-PR) afirma em sua coluna desta terça (11) que Temer, Meirelles, Moreira e Padilha nada têm a perder, pois, segundo o colunista, “não são candidatos a nada”. Diferente da maioria do Congresso Nacional, que terá de renovar seu mandato em 2018. “Votar a favor das reformas é suicídio político”, resume o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

O fino e transparente véu sobre a nudez de Temer

Enio Verri*

Renan Calheiros tirou o fino e transparente véu que cobria a nudez do governo golpista de Michel Temer. Apesar de gritar aos olhos de todos, o nefasto programa do governo Temer vem sendo ostensivamente escondido pela imprensa. O gesto de Calheiros, provocado pela maciça ocupação das ruas, teve o condão de desmentir a imprensa interessada no golpe de 2016.

Um desesperado gesto para defender o governo foi o da GloboNews, ao tentar relacionar um fato aterrador para 13 milhões de famílias, recessão e desemprego, com uma pauta positiva de economia, aumento do poder de compras das famílias que estão desempregadas. A repórter Thaís Heredia publicou nota em que assume o erro. Mas isso não diminui toda a campanha das organizações Globo em defesa, não a de Temer, mas da entrega do País ao capital estrangeiro e das agressões aos trabalhadores.

Os dois maiores jornais de São Paulo não se cansam de defender as reformas da Previdência e trabalhista. O editorial do Estadão, desta segunda-feira (10), classifica de chantagistas e maus políticos os mais de 270 parlamentares da base de Temer. Ocorre que eles sentem nas bases o que Calheiros revelou durante jantar na casa da senadora Kátia Abreu, também do PMDB: votar a favor das reformas é suicídio político.

Economia

Temer e a elite do seu ministério de notáveis, Henrique Meirelles, Moreira Franco e Eliseu Padilha, nada têm a perder, pois não são candidatos a nada. Estão no governo para entregar um produto e não se importam com as consequências de um pretenso futuro político eleitoral. Já os parlamentares têm muito a perder e não querem pagar para ver, em 2018.

O plano do governo golpista mobilizou, ainda que com certo atraso, movimentos sociais e centrais sindicais do campo e da cidade. Os parlamentares, e aqui se inclui o senador por Alagoas, reagem à única coisa que os políticos temem: as ruas. A organização das mobilizações deixa os parlamentares sem saída. A imprensa não para de fazer pressão nos deputados deixando-os ainda mais confusos e apreensivos.

A quantidade de cidades onde a população aderiu às mobilizações e a qualidade dos argumentos de quem é contra o desmonte do pouco de Estado de bem-estar social é proporcional à quantidade de parlamentares que correm das reformas. Renan apenas ilustrou com palavras o que os parlamentares estão vendo se confirmar. Eles não querem e não devem esperar para ver o fim se suas carreiras políticas.

De tudo isso, a boa notícia para os mais de 80% da população prejudicados pelo governo golpista é a de que o próprio Temer assumiu as negociações com a base aliada. Finalmente será revelada ao público a tão propalada, mas nunca demonstrada, habilidade política de Temer. Restarão a truculência e o autoritarismo de um feitor com uma missão a cumprir para seus patrões.

Haverá superintendência, diretoria, presidência de algum órgão estatal que valha o fim de uma carreira política? Quem se arriscará por um governo sem uma réstia de legitimidade popular, sem voto, com 80% de rejeição e que, a qualquer momento, pode cair? Todos sabem, mesmo porque são parte do golpe executivo-parlamentar-judiciário-midiático que solapou a tenra e frágil democracia.

A base “aliada” está numa delicada sinuca de bico. Os parlamentares cederão à mídia que os defendeu durante a instalação do golpe e agora os ataca? A imprensa atende ao mesmo senhor que manda em Temer, o mercado financeiro. Ocuparão os nobres parlamentares as tribunas do Congresso Nacional para denunciar a imprensa golpista, que atua para retirar direitos dos trabalhadores? O golpe derrete em praça pública.

*Enio Verri é deputado federal e preside o PT do Paraná.