O fim da política, o extermínio de Lula e o novo

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) eleva o tom das denúncias contra o golpe que, segundo ela, agora usa a tática de tentar ganhar espaço no quadro de desencanto com a política em que vivemos com um movimento antipolítica, com candidatos não políticos, criando uma cortina de fumaça, tentando enganar o povo com soluções fáceis. “João Dória é o exemplo mais evidente”, afirma ela em sua coluna desta segunda-feira (17).

O fim da política, o extermínio de Lula e o novo

Gleisi Hoffmann*

As avaliações do establishment midiático após a divulgação da lista da Odebrecht praticamente decretam o fim da política “tradicional” como condutora da democracia no país. Execrada e criminalizada, a política, e por consequência os políticos, não serve mais para dar conta dos desafios do Brasil e deve ser totalmente reformulada, substituída por algo novo, que traga, de preferência num ato heróico e mágico, a solução para os nossos problemas.

A política “tradicional” é contra-posta nessa conjuntura pelo anti-político. A avaliação corrente é de que terá mais sucesso quem for anti-política, quem for novo de nome, método e partido. Ou melhor, nem de partido, mas que pertença a um desses movimentos, que estão sendo criados a dezenas, para ocupar espaço dos e nos partidos políticos que povoam nosso sistema. A maioria deles de caráter liberal, inclusive nos costumes (o que os faz mais charmosos), apoiados por empresários, profissionais liberais, ex-gestores públicos “técnicos”, que serviram a vários governos, mas que reforçam a narrativa da negação da política.

Como exemplo mais visível desse processo existe o MBL, conhecido por seu protagonismo no impeachment, golpe, contra a presidenta Dilma. Braço operativo de partidos de direita e setores da sociedade. Mas outros estão nascendo como o Acredito e o Brasil 21. O Agora, o Livres, Meu Rio, Nova Democracia, Partido Novo, enfim, inúmeros movimentos que apostam na despolitização, na técnica como caminho supremo e, apesar de pretenderem-se rede, horizontais na atuação, apoiam-se no incentivo a lideranças out siders como possíveis redentoras do momento de crise. Luciano Huck se apresentou assim em entrevista recente ao jornal Folha de São Paulo, que tem estimulado esse processo. Segundo Huck o problema é geracional, sendo ele uma possível resposta, saída, para essa crise. Projetos para o Brasil? Nenhum, apenas autoelogios.

Economia

Esse é o clima criado pela condução dada a lava-jato e, principalmente, a sua divulgação. Num primeiro momento tudo direcionando ao PT, a Lula. Os grandes corruptos do Brasil, precursores da corrupção, quadrilha. Como nenhuma mentira se sustenta por muito tempo, veio à baila, com a lista da Odebrecht, a história da corrupção brasileira, da relação público-privado. Nesses casos os empresários, delatores nos processos, passam quase a condição de heróis, e os políticos os mal feitores por si só. Apesar do envolvimento de todas as grandes lideranças políticas da história recente e de seus partidos nessas delações, o peso maior continua a ser dado a Lula e ao PT, mesmo que sobre outros recaiam denúncias mais graves. São horas e horas de noticiário desconstruindo o ex-presidente, sem provas, com veiculação editada das gravações, que o deixam mais “culpado” perante a opinião pública.

Lula não pode ser candidato. O PT não pode voltar. Esse é o objetivo desses movimentos que se entrelaçam: denuncismo pesado e alternativas a política tradicional. Três de maio, quando Lula dará seu depoimento, em Curitiba, ao juiz Sérgio Moro, que agiliza sua condenação, está sendo preparado agora, com a divulgação exaustiva dos vídeos da turma da Odebrecht, assim como estão sendo preparadas as alternativas para o processo eleitoral de 2018, ainda que isso nos custe o sistema democrático.

Os ricos do Brasil, os donos do capital, que estão por trás da construção desses movimentos ditos alternativos a política e da tentativa de projeção de vários nomes para liderar o processo, não deixam de atuar também dentro do sistema tradicional, para não perderem espaço. É assim que nasce do velho o “novo”, como possibilidade de reinventar a política. Com o mesmo discurso asséptico, do técnico, do gestor, que não se entrega a política, incensam e projetam João Dória, atualmente queridinho para ser candidato a presidente em 2018, já que outras lideranças preferidas dessa turma foram abatidas com as denúncias. Nenhuma delas tem popularidade capaz de enfrentar a avalanche denuncista como tem Lula.

Fica cada vez mais claro para a população brasileira e para a opinião pública internacional que o embate que acabou no golpe contra Dilma, foi para implantar um governo que tem agenda totalmente contrária aos interesses dos mais pobres e dos trabalhadores em geral. Temer cumpre à risca o papel que o delegaram. Os mesmos que hoje destroem a política, depois de servirem-se dela, apresentam alternativas para substitui-la na condução do país.

Apesar de toda carga negativa e da desconstrução, Lula é cada vez mais reconhecido como a alternativa para que o Brasil volte a ter como prioridade a geração de riquezas, a geração de empregos e a inclusão social, como aconteceu em grande escala durante os governos coordenados pelo PT.

Para aqueles que não têm um projeto de desenvolvimento para apresentar ao país, não têm um projeto de Nação, sobra a tática de tentar ganhar espaço no quadro de desencanto com a política em que vivemos com um movimento anti-política, com candidatos não políticos, criando uma cortina de fumaça, tentando enganar o povo com soluções fáceis. João Dória é o exemplo mais evidente. Vendido como empresário exemplar, gestor técnico, ele, na verdade, está na política há muitos anos. Exerceu cargos no governo federal e governo de São Paulo. Faz política há muito tempo, e política de pior escala, aquela oportunista, que falseia, engana, mente.

O verdadeiro confronto que teremos em 2018 será entre os interesses do povo trabalhador brasileiro e os dos detentores de capital e seus prestadores de serviços. Aliás, isso já está acontecendo agora. O poder financeiro e econômico levou a melhor ao conseguir afastar Dilma e iniciar a implementação de uma agenda contra o povo brasileiro. A disputa de 2018 será entre essas forças e poderá terminar com a vitória das elites econômicas e consolidação desse projeto que Temer representa, ou com a vitória popular, de um projeto de inclusão social e econômica, favorecendo os mais pobres, como aconteceu nos últimos anos.

A anti-política e a austeridade são armas da direita, daqueles para quem o povo é apenas um detalhe a atrapalhar seus interesses e negócios.

Enfrentar esse golpe continuado, a despolitização da sociedade brasileira e os ataques a democracia e aos direitos adquiridos é prioridade para um país que, como o Brasil, tem sua história marcada por autoritarismo e Estado de exceção, entremeada por parcos períodos de regime democrático.

*Gleisi Hoffmann (PT-PR) é líder do partido no Senado.

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