Golpes, levantes no mundo árabe e terrorismo como show pirotécnico no Brasil

golpe_primavera_brunoBruno Meirinho (PSOL), em sua coluna desta sexta (22), faz um paralelo entre a recente crise na Turquia com o golpe no Brasil. “A crise que o ‘ocidente’ esperava que ficasse apenas no oriente médio já começa a criar fraturas do lado de cá”.

O colunista destaca a Síria e a Turquia como países que resistiram à confusa primavera árabe, que, segundo ele, originou o Estado Islâmico na região com a conivência da OTAN — aliança militar dos EUA e países da Europa.

Meirinho aborda o tema num momento em que o o governo golpista do Brasil faz seu show pirotécnico, acerca do terrorismo nas vésperas dos Jogos Olímpicos, para “legitimar” o interino Michel Temer (PMDB) perante o mundo. Abaixo, leia, comente e compartilhe a íntegra do texto:

Golpes e levantes no mundo árabe

Bruno Meirinho*

A chamada Primavera Árabe ainda se manifesta. Mobilizada por forças contraditórias, a série de levantes ocorrida no mundo árabe desde 2010 é vista algumas vezes como fruto da manipulação de forças “ocidentais” e a ascensão de grupos radicais islâmicos, e outras vezes como expressão da indignação popular contra ditaduras que controlam há décadas seus países.

Economia

Há uma pitada de cada tempero no caos que domina a região do oriente médio e norte da África nos últimos anos. Quando o Egito pôs fim no governo de 30 anos de Hosni Mubarak – que já tinha rasgado toda a cartilha do Nasserismo de que era herdeiro –, o povo foi às urnas e elegeu o candidato da Irmandade Muçulmana, que, no entanto, não agradou às forças “ocidentais”.

As forças “ocidentais”, entre aspas, são os países que integram a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, a mais poderosa organização militar do mundo, que reúne os Estados Unidos e grande parte da Europa, e que é tratada no discurso oficial e da mídia tradicional como sinônimo de ocidente, muito embora vários países ocidentais não integrem nem aprovem as políticas da OTAN.

E quando algo não agrada ao “ocidente”, pode esperar, vem chumbo grosso. No Egito, o presidente Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, vencedor da única eleição presidencial que se tem conhecimento naquele país, foi derrubado por um golpe militar silenciosamente tolerado pelo “ocidente”. Nesse país, a primavera árabe veio para deixar tudo do jeito que já estava, com um governante fantoche.

Na Líbia, a primavera árabe teve entre seus protagonistas grupos terroristas da linha do Estado Islâmico e Al Quaeda, que derrubaram o governo por meio de atentados sucessivos realizados a partir de 2011, quando as ocorrências desse tipo se multiplicaram, chegando a mais de 700 ataques em 2014, de acordo com dados do Global Terrorism Database.

Os números revelam o caos que tomou conta do país depois da morte de Muammar Gaddafi, e a incapacidade do “ocidente” estabelecer uma alternativa, já que a própria força aérea francesa apoiou os ditos rebeldes líbios com ataques contra o governo. Mas, no fim, os rebeldes mais pareciam ser um bando de terroristas que tornaram o país inviável.

O mesmo ocorreu no Iraque, que não se tornou um país melhor depois da derrubada de Saddam Hussein, apoiada por forças militares “ocidentais” que entregaram, depois da guerra, um país dominado por facções terroristas fundamentalistas, entre elas o Estado Islâmico. O erro já foi confessado pelo Reino Unido, que recentemente publicou um relatório crítico à participação dos britânicos na guerra do Iraque, motivando um pedido de desculpas emocionado do ex-primeiro ministro, Tony Blair, que se defendeu apenas dizendo que não agira de má-fé.

Dentre os poucos governos que encontraram forças para resistir aos ataques confusos da primavera árabe, destacam-se a Síria e a Turquia. Na Síria, comandada por Bashar Al-Assad, o país é fortemente atacado pelos terroristas do Estado Islâmico, que tem nesse país sua capital, e também pelas forças ocidentais, que alegam estar apoiando grupos de oposição legítimos (supostamente não-terroristas) ao governo. Em defesa do governo sírio, a Rússia ataca os grupos de oposição, acusando-os de serem todos terroristas.

E agora a Turquia passa pela tentativa de golpe militar, pouco condenada no “ocidente”, onde algumas vozes chegaram a dizer que seria bom que Erdogan, o presidente turco, fosse deposto. A Turquia é talvez o único país importante da região a ter sobrevivido à primavera árabe sem maiores consequências, mas isso não quer dizer que não tenha havido tentativas. Ataques terroristas recentes e o famigerado golpe militar foram algumas das últimas movimentações com o objetivo de criar instabilidades no país.

A verdade é que falta empenho real do “ocidente” em colaborar com a paz nessa região, e, muitas vezes, o que se vê é o contrário: países da OTAN contribuindo com o caos nos diversos países. A atual crise na Turquia já começa a mostrar suas consequências, já que esse país também faz parte da OTAN, e manifestou sua insatisfação com a leniência dos demais integrantes do grupo, que pareceram desejar o sucesso do golpe contra o presidente.

A crise que o “ocidente” esperava que ficasse apenas no oriente médio já começa a criar fraturas do lado de cá.

*Bruno Meirinho é advogado, foi candidato a prefeito de Curitiba. É o coordenador local da Fundação Lauro Campos, instituição de formação política do PSOL. Ele escreve no Blog do Esmael às sextas-feiras sobre “Luta e Esperança”.

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