Gleisi Hoffmann: Nem as pesquisas escapam das manipulações do golpe

gleisi_urnaA senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em sua coluna desta segunda-feira (18), denuncia as manipulações chegaram às pesquisas de opinião visando criar um clima favorável ao golpe no Senado. Num passe de mágica, segundo ela, o Datafolha (Folha de S. Paulo) fez sumir 70% da população que há um mês queriam eleição direta para presidente da República.

A articulista estranha que o golpe tenha chegado até às pesquisas num momento em que o MPF arquivou investigações sobre supostas “pedaladas fiscais” contra Dilma Rousseff e a maioria dos senadores já pendem pela absolvição da presidente. Outro levantamento, do Ibope, de 1º de julho, dizia que apenas 13% toleravam o interino Michel Temer (PMDB). “Portanto”, ressalta Gleisi, “não há crimes”.

A parlamentar fez um paralelo entre o golpe da Turquia com o do Brasil, citando o líder oposicionistas turco Kemal Kiliçdaroglu que se manifestou: “A Turquia sofreu muito no passado pelos golpes de Estado. Estamos com a democracia e a República”. Abaixo, leia, comente e compartilhe a íntegra do texto:

As manipulações do golpe

Gleisi Hoffmann*

Inacreditável a pesquisa Datafolha publicada neste domingo. Como num passe de mágica houve inversão de resultados apurados há mais ou menos um mês por um outro prestigiado instituto de pesquisa, CNT/MDA. O presidente interino, Michel Temer, passou a ser bem avaliado, com preferência sobre Dilma; apenas 3% da população quer eleições diretas, contra 60% que as queriam fazem trinta dias; e o otimismo do brasileiro em relação a economia do país voltou. Aliás, fazia algum tempo que o Datafolha não publicava pesquisa. Também voltou!

Economia

Coincidência ou não, essa leitura otimista do governo Temer e mais positiva da economia acontece após uma melhora nas expectativas de se reverter o processo de impeachment no Senado. A apresentação do resultado da perícia, solicitada pela defesa da presidenta Dilma, comprovou que não há ato dela nas chamadas pedaladas fiscais junto ao Banco do Brasil. Também diminui para três os decretos de suplementação orçamentária que teriam sido editados sem previsão legal! Lembremos que o processo começou com seis decretos.

Some-se a isso decisões recentes do Ministério Público Federal que mandou arquivar dois. Procedimentos Investigatórios Criminais referente à prática de crimes previstos no Código Penal: operações de crédito sem autorização legislativa e despesas não previstas em lei. Um desses procedimentos era, exatamente, o do atraso no pagamento das subvenções dos juros do Plano Safra junto ao Banco do Brasil. Isso, com certeza, está causando desconforto entre senadores que julgam a presidenta.

Como condená-la se o Ministério Público, que tem prerrogativa constitucional de determinar a prática de um crime, entendeu que as pedaladas não configuraram operações de créditos e, portanto, não são crime!

A articulação política no Senado também vai adiantada. Um grupo de senadores independentes tem se reunido com frequência com colegas para debater o processo de impeachment e mostrar que a presidenta é inocente quanto às acusações que lhe fazem. Já reverteram votos e estão crescendo nesse objetivo. Para mim, são esses resultados que “influenciaram” a pesquisa Datafolha.

Quanto a economia, vão vender terreno na lua ao povo brasileiro. Vão repetir a intensa propaganda midiática que fizeram contra Dilma a favor de Temer. A grande mídia tem esse compromisso. Aliás, ao olharmos as matérias jornalísticas do final de semana, nenhum grande veículo deu destaque a decisão do Ministério Público Federal sobre a não existência de crimes nas pedaladas fiscais. E agora?!

Fiquemos atentos porque nos próximos dias que antecedem a votação do impeachment o governo interino de Temer será exaltado. Essa será a prática política e midiática.

Não posso terminar este artigo sem deixar de falar no golpe da Turquia. A oposição a presidenta Dilma poderia ter a grandiosidade e compromisso com a Nação que está tendo a oposição turca, através de seu líder Kemal Kiliçdaroglu que se manifestou: “A Turquia sofreu muito no passado pelos golpes de Estado. Estamos com a democracia e a República”.

*Gleisi Hoffmann é senadora da República pelo Paraná. Foi ministra-chefe da Casa Civil e diretora financeira da Itaipu Binacional. Escreve no Blog do Esmael às segundas-feiras.

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