por Milton Alves*
A gangorra de acontecimentos políticos dos últimos dias determina cautela para qualquer tipo de avaliação sobre o desfecho da crise política em curso. Porém, é possível identificar uma vigorosa reação dos setores democráticos da população e um certo cansaço do dispositivo golpista.
Chega a ser surpreendente a capacidade de resistência demonstrada pelo governo da presidente Dilma e do Partido dos Trabalhadores (PT) e aliados que, apesar de sitiados por uma operação policial e midiática sem precedentes na vida nacional, lutam para assegurar sua sobrevivência política.
Nos últimos dias, contando a partir de sexta-feira passada(18), dia das manifestações contra o golpe, o governo vem acumulando forças em duas frentes básicas: na arregimentação de apoio na sociedade civil e no Judiciário, principalmente com a decisão do ministro Teori Zavascki que retirou a jurisdição do juiz Sérgio Moro sobre as investigações referentes ao presidente Lula.
Além disso, a Lava Jato colecionou tropeços que geraram um amplo questionamento no meio jurídico, como a condução coercitiva de Lula e os vazamentos dos grampos ilegais, que incluíam até a presidente Dilma. Aliás, fatos que ainda serão objeto de exame do Conselho Nacional de Justiça(CNJ). De toda forma, houve um sensível desgaste do juiz Moro nos dois episódios.
É verdade que o governo Dilma sofreu um revés com o impedimento judicial da nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil, um arranjo indispensável para garantir a costura de uma base parlamentar caótica e em franca deserção. Neste sentido, se concentra na frente parlamentar a maior debilidade do governo no momento. Aí o terreno é movediço e no próximo dia 29 de março a reunião do PMDB será um teste decisivo para medir as chances de recuperação ainda que parcial desse partido na condição de aliado para as batalhas vindouras contra o impeachment da presidente.
Um dado alentador para o governo nesta semana, foram as manifestações de apoio de diversos e variados segmentos sociais contra a tentativa em curso de golpe jurídico-midiático, com a chancela de um processo de impeachment no Congresso, sem crime de responsabilidade tipificado. Um verdadeiro golpe de tipo paraguaio.
Listão da propina da Odebrecht
O aparecimento de uma lista de propinas sistemáticas da empresa Odebrecht para políticos de praticamente todas as legendas representadas no parlamento caiu com uma bomba incendiária no Congresso Nacional.
A lista atinge mais de 200 políticos, do alto e baixo clero, com os seus codinomes escatológicos – Aspirador, Viagra, Chaninha, Passivo, Caranguejo, entre outros – temos um escândalo de grandes proporções, que impactará em todo circuito político-parlamentar, colocando em xeque a legitimidade do parlamento para decidir, por exemplo, o impedimento da presidente Dilma.
Por sua vez, o listão da propina vai exigir da Operação Lava Jato um reposicionamento. Até agora era fácil a seleção do alvo: os petistas e empreiteiros vinculados às obras da Petrobrás. Com todos os líderes tucanos e da oposição na lista, ou seja, os aliados objetivos de Moro, a situação muda de figura.
Resta saber como a Operação Lava Jato vai se comportar a partir de agora. Outra consequência do listão, visível nos telejornais panfletários da Rede Globo, foi o tom de desalento dos apresentadores da emissora com a presença das lideranças oposicionistas na lista da propina. Também nas redes sociais nesta noite de quarta-feira(23), era geral o lamento e a indignação dos simpatizantes do movimento pró-impeachment com os chefes tucanos citados na lista.
Portanto, a semana da Páscoa apresenta até o momento um freio de arrumação no embate entre governo e oposição. Dilma e o PT reagiram e tratam de recuperar o terreno perdido e a onda golpista da oposição perdeu fôlego, mas longe de derrotada.
Via www.miltonalves.com.
*Milton Alves é blogueiro, ativista social e militante do PT em Curitiba/PR.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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