Coluna do Reinaldo de Almeida César: “Quem avisa, amigo é”

criminalidade
Em sua coluna semanal, o delegado da Polícia Federal, Reinaldo de Almeida César comenta a escalada da criminalidade nas maiores cidades do estado, Curitiba e Londrina. Segundo Reinaldo, este não seria o melhor momento para o governador Beto Richa enrolar os policiais civis e militares em suas principais reivindicações. Ele relata que recentemente vários policiais militares foram baleados, um investigador da Civil foi morto, e dois coronéis foram vítimas de roubo com muita violência em suas próprias casas. Segundo Reinaldo, para os PMs, a reivindicação é o pagamento de promoções e progressões, além da equiparação com a Polícia Civil; já para os civis, seria a equiparação dos delegados com os procuradores do Estado, além da valorização da carreira como um todo. Leia, comente e compartilhe.

Reinaldo de Almeida César*

Não se sabe ao certo se a voz do povo é a voz de Deus. A velha expressão latina “vox populi, vox Dei” é muito contestada, desde sua origem, seja na referência ao deus Hermes, seja em relação à carta do monge Alcuíno para Carlos Magno.

Atenção aqui, prezados leitores, trata-se do deus Hermes da mitologia grega (depois o deus Mercúrio para os romanos) e não o deus Thierry Hermès, cultuado pelos novos e velhos ricos, que frequentam o eixo Centro Cívico-Faubourg Saint-Honoré, à procura de uma Birkin ou de uma gravata de seda em tom laranja, como se estivessem em busca do Santo Graal.

No entanto, a sabedoria popular, consagrou um outro adágio, conhecido por “quem avisa, amigo é”, este sim, verdadeiro e circulante há muitos anos na comunicação popular, leiga e profana.

Aqui, nesta terra de Araucárias, não se consegue entender como o governo não é sacudido um milímetro sequer por este sábio provérbio.

Economia

Um dos melhores amigos do governador, Tony Garcia, e o cunhado de Sua Excelência, Avelino Neto, preocupados com o que visualizavam, alertaram o chefe do Executivo sobre erronias na gestão. A propósito, para que não se perca a oportunidade, diga-se que tratam-se de dois boas praças, empresários de sucesso, que sempre me distinguiram com generosos gestos de amizade, pelos quais tenho profundo respeito e que claramente desejam, nas opiniões que emitem nas redes sociais, apenas o melhor para o governador e para o Paraná.

Na área da segurança pública, “quem avisa, também amigo é”.

No momento em que explode a criminalidade violenta e patrimonial em Curitiba e Londrina, em que vários policiais militares são baleados, em que investigador da Civil é morto, em que dois coronéis são vítimas de roubo com muita violência em suas próprias casas, não parece ser boa política dar de ombros para as legítimas pretensões dos servidores da segurança pública.

A grande imprensa não divulga, para não perder anunciantes, mas o fato é que Curitiba assiste à uma escalada da violência sem igual, com arrastão em restaurante no Juvevê, assaltos em conhecidos supermercados, assaltos em panificadoras, em requintado salão de beleza no Champagnat, em loja de roupas infantis de renome, em loja de bicicletas importadas, além de assaltos com troca de tiros em agências bancárias.

De um lado, temos infindáveis reuniões de representantes da Secretaria de Administração com entidades que falam em nome de praças e oficiais — na linha de frente, aguerrida como sempre, a AMAI — tendo pauta específica sobre pagamento de promoções e progressões, além do compromisso de equalização com a Polícia Civil, encontros que seguem em ritmo modorrento, emoldurados por falas mansas e escorregadias, sem nada de concreto, apenas trazendo muita frustração para a família policial militar.

De outra banda, o governo não bate o martelo para fazer honrar o compromisso que ele próprio assinou e assumiu, em março de 2014, para promover a equivalência remuneratória dos delegados da Civil com os procuradores do Estado. A inação do governo fez irritar e empurrou quase 200 delegados na última assembléia da ADEPOL para, por unanimidade, deflagrarem uma série de ações que se iniciou com o desnude da situação das carceragens em todo o Paraná e terá seu ápice com divulgação de cartilha que já está sendo elaborada por competente agência de publicidade, resgatando o histórico de denúncias de malfeitos que rondaram o Palácio nos últimos tempos.

Isso sem falar que não se tem notícia de qualquer movimento concreto do governo no sentido de valorização remuneratória e de carreira para os profissionais da criminalística e da medicina legal, ou ainda, de qualquer resposta palpável aos legítimos pleitos apresentados pelos agentes penitenciários que convivem, dentro e fora dos presídios, com a realidade da perigosa presença de conhecida organização criminosa no Paraná, fato que o governo demorou muito para reconhecer.

Só peço aos leitores que não voltem os olhos para o prédio da SESP. Não é lá que se encontra a solução para estes problemas estruturais. A SESP não tem a chave do cofre. Até perdeu, no ano passado, a gestão autônoma e integral do Fundo Estadual de Segurança Pública, o FUNESP, que seria destinado ao reequipamento e modernização das polícias.

Quando muito, o titular da SESP poderá apertar o botão do terceiro andar no Palácio, olhar de forma altaneira para o governador e com lealdade, descortinar a verdade hoje latente entre os trabalhadores da segurança pública, sem receio de perder o cargo.

Eu tenho até uma sugestão de início de tertúlia, para o competente e jeitoso secretário Wagner Mesquita.

Ele pode começar seu relato ao governador pelo sábio provérbio: “quem avisa, amigo é”.

*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”.

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