Coluna do Bruno Meirinho: Ao Mestre Pop nossa solidariedade

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Em sua coluna semanal, Bruno Meirinho (PSOL) manifesta solidariedade ao vereador de Curitiba, Mestre Pop (PEN), vítima de racismo vindo de um colega vereador, Zé Maria (SD). Mestre Pop não se calou, e prestou queixa sobre a injúria sofrida. Bruno fala do racismo latente e da realidade da exclusão dos negros, que muitos ainda insistem em negar. Leia, ouça, comente e compartilhe.

Bruno Meirinho*

Aconteceu na Câmara Municipal de Curitiba. O vereador Zé Maria (SD) tenta se justificar: “foi só uma piada”. Antes disso, em uma sala em que estavam reunidos alguns vereadores, ele perguntou ao vereador Mestre Pop, um dos poucos vereadores negros da câmara, “Sabe por que preto entra em igreja evangélica?”.

Diante do silêncio, Zé Maria insistiu mais uma vez, e então respondeu: “Para poder chamar o branco de irmão”, e então caiu na risada. Nenhum dos outros vereadores riu. Alguns demonstraram reprovação.

Indignado, Mestre Pop decidiu que faria um boletim de ocorrência, para denunciar o crime cometido por Zé Maria. E está claro que o vereador Zé Maria de fato cometeu uma grave conduta racista, que não se espera de ninguém, muito menos de uma pessoa eleita pela sociedade.

Desde sempre, “piadas” dessa natureza nunca tiveram graça, e já há algum tempo a sociedade tem rejeitado esse tipo de postura, reconhecidamente agressiva. Zé Maria está, no mínimo, desatualizado, mas seu comportamento também reflete uma grave alienação: o vereador não nota que, a sua volta, não se tolera mais isso? Falta ao parlamentar ter mais contato com as pessoas!

A postura de Zé Maria é ainda mais marcante por ser contraditória com sua militância. O vereador se autodenomina defensor das pessoas com deficiência, que também estão em busca de respeito pela sociedade e vítimas de práticas de marginalização e preconceito semelhantes àquelas sofridas pelos negros.

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Na sua página na internet, o vereador reivindica um tripé: “respeito, inclusão e dignidade”. Faltou a Zé Maria o verdadeiro compromisso com esses valores, e a solidariedade entre os grupos marginalizados. Solidariedade, aliás, que é o nome do seu partido.

E o episódio aconteceu no mês da consciência negra, que alguns querem minimizar. A urgência da questão também é visível na composição da câmara: são 38 vereadores, dos quais menos de 10% são negros.

Pode-se dizer, talvez, que o Mestre Pop seja o único negro da legislatura. E a realidade é nacional: dos deputados federais, cerca de 20% são negros, proporção semelhante entre os senadores; e na Assembleia Legislativa do Paraná, nenhum negro.

Por tudo isso, não se pode mais tolerar comportamentos como este do vereador Zé Maria. Seu comportamento deve ser apurado, com o rigor que o cargo exige. Acima de tudo, Mestre Pop merece toda a nossa solidariedade.

*Bruno Meirinho é advogado, foi candidato a prefeito de Curitiba. É o coordenador local da Fundação Lauro Campos, instituição de formação política do PSOL. Ele escreve no Blog do Esmael às sextas-feiras sobre “Luta e Esperança”.

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