Coluna do Rafael Greca: Mais Curitiba, menos Brasília

curitiba
Em sua coluna semanal, o ex-prefeito Rafael Greca propõe que Curitiba busque mais as soluções locais, como já fez em seus melhores dias, e deixe de lado as “soluções milagrosas” vindas de Brasília, mas que nunca se realizam. Ele cita o Metro de Curitiba como exemplo, já foi anunciado três vezes com pompa e circunstância, mas até agora…  Greca enumera as obras que fez na cidade enquanto era prefeito sem contar com nenhuma ajuda do governo federal de então. Leia, ouça, comente e compartilhe!

Download

Rafael Greca*

Quem inventou esta inominável dependência curitibana de Brasília? Não fui eu nem foi você. Quem colocou Curitiba na vala comum do pires na mão? Não fui eu nem foi você.

Que raios de discurso é este? Curitiba antes modelo, vai mesmo aceitar calada o título de cidade modelada? Não, mil vezes não. Não foi para isso que você deu o seu voto.

Curitiba está travada, imobilizada. Fruet faz Prefeitura sem frutos, infrutífera; resultado de suas escolhas calculistas e apostas políticas frustadas.

Chegou ao poder bafejado pelos ventos do PT, impulsionado pelos investimentos de Gleisi Hofmann, Paulo Bernardo, Angelo Vanhoni, André Vargas, os grandes escritórios de Brasília, as empresas empreiteiras então íntimas dos sorridentes poderosos do Planalto.

Economia

Havia uma expectativa de que os lucros da Copa e programas como “PAC”, “Minha Casa Minha Vida” e o Metrô (lançado aqui três vezes com a presença da presidente Dilma Rousseff), irrigassem as finanças curitibanas.

Em 2012, Ducci e Fruet celebraram o acordo dessa dependência. Chegaram a disputar nos tribunais o direito de ter o sorriso de Dilma nos seus tristonhos programas eleitorais. Hoje, a realidade mudou. Agora tentam se descolar da imagem que eles mesmo colaram, enquanto queimavam o filme.

A recessão/depressão está nas ruas. É visível na cena inaceitável do abandono social, em doentes deambulando pelas marquises dos prédios, traficantes e drogados — travestidos de moradores de rua — ameaçando o direito de ir e vir dos transeuntes e a paz social urbana.

Estamos esperando o Metrô, sentados à beira dos caminhos, nas filas do transporte coletivo desintegrado, com 183 ônibus de vida útil vencida. Na última quinta-0feira, 1º de outubro, às 13 horas, vi o incêndio de um ônibus alimentador do Bacacheri, na avenida Erasto Gaertner,em frente ao Sindacta. Aterrador.

A danosa desintegração do transporte público também faz mal à qualidade de vida do povo trabalhador. Isto particularmente me dói, e dói muito, porque em 1995, enquanto prefeito de Curitiba, criei a Rede Integrada Metropolitana de Transportes.

Quem antes pegava um único ônibus Colombo-CIC, agora tem que pagar, subir e descer de pelos menos três coletivos: Colombo- terminal do Cabral; dali ao terminal da CIC; e depois até a fábrica de seu destino por alimentador.

Quem andava desde São José dos Pinhais até a Barreirinha, agora é obrigado a descer no Terminal do Boqueirão; ali embarcar no Boqueirão-Centro Cívico; depois caminhar até o Guadalupe, para subir no ônibus Barreirinha-Guadalupe.

Pior ficou a vida de quem usava a linha Tamandaré-Fazendinha. Agora tem que fazer Fazendinha-Guadalupe; depois Guadalupe-Terminal do Cabral; e ali embarcar num ônibus para a sede urbana da cidade de Almirante Tamandaré. Ou então caminhar até o tubo do Centro Cívico, para seguir ao bairro Cachoeira. Esta e outras desintegrações pioraram a vida das pessoas. E não foi para a vida piorar que o curitibano votou.

Há também uma desintegração financeira. Eleonora Fruet, a primeira-irmã, secretária municipal de Finanças, disse à Câmara Municipal que “60% das obras propostas no orçamento 2016, dependem de recursos de Brasília”.

Duro acreditar que Curitiba, uma cidade modelo celebrada dentro e fora do Brasil, esteja 60% na dependência de um governo dependente como está o governo Dilma/Levi — em escandalosa penúria devido tantos roubos e mal feitos, que apresenta como saída cortes e contigenciamento de investimentos para estados e municípios.

Será que virão os R$ 1,22 bilhão prometidos por Brasília? Terá caixa, o governador Richa, para transferir os R$1,41 bilhão previstos para Curitiba?

O orçamento 2016 deveria ser chamado de “névoas do nada”: obras do metrô; ampliação da sistema BRT no eixo Leste-Oeste entre a CIC-Norte e o Centenário.com a urgente ampliação dos Terminais Centenário e Vila Oficinas ; remodelação da Linha Inter 2 e a finalização da Linha Verde, interminável e descontinuada, chamada nas ruas de Lesma Verde, Lenda Verde…

Não bastasse a desintegração, ainda assistimos algo pior, nossos vereadores a copiar as mal sucedidas « soluções paulistanas » no novo Plano Diretor de Curitiba em votação, como se a paulicéia desvairada fosse o paraíso do Urbanismo. São Paulo tem sabidamente um dos prefeitos de pior avaliação no Brasil. Tão infrutífero quanto Fruet.

Estamos copiando São Paulo, que copiou Bogotá e Medellin, que já copiaram Curitiba nos nossos bons tempos. Até quando vamos continuar com governantes que só sabem copiar o que enxergam, mas não conseguem entende, porque porque não sabem reconhecer o que é mesmo necessário fazer?

Até quando vamos continuar à reboque destes egoístas que apenas querem o poder pelo poder e não sabem como fazer? Até quando Curitiba continuará sem soluções pioneiras e originais?

Governei a cidade de Curitiba em tempo de crise. Crise econômica, com o dragão da inflação nas alturas e o cruzeiro (real) da época valendo quase 8 reais; crise política, com um presidente deposto e outro empossado.

Por causa da crise não baixamos a cabeça, pelo contrário, a crise desafiou a nossa criatividade até nós encontrarmos soluções próprias. No meu tempo de prefeito de Curitiba, Brasília foi insignificante na execução das minhas 6.600 obras.

Não teve Brasília nas 6 Ruas de Cidadania; nos 45 Faróis do Saber; nos 140 km de asfalto estruturado para implantação dos bi-articulados e inter-bairros, a Rede Integrada Metropolitana de Transportes; nos 12 novos Parques; na rede de 105 postos de saúde de bairro com Farmácia Básica gratuita; nos 6 Postos 24 Horas; no Bairro Novo, nas Moradias Santa Rita, na Gleba da Ordem, no Hospital do Bairro Novo, na Pousada de Maria, no Vale-Vovó, no Tudo Limpo, no Carrinheiro Cidadão, no FAS-SOS, na Fazenda Solidariedade, no Memorial da Cidade.

Não teve Brasília porque tínhamos Curitiba no sangue.

Para o atual prefeito aconselho a adoção de nossa única estratégia: mais Curitiba, menos Brasília. Simples assim.

*Rafael Greca, ex-prefeito de Curitiba, é engenheiro. Escreve às quartas-feiras no Blog do Esmael sobre “Inteligência Urbana”.

Comments are closed.