Coluna do Reinaldo de Almeida César: Ao novo Secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita

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Em sua coluna desta quarta-feira, Reinaldo de Almeida César escreveu uma carta com recomendações ao novo Secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita. Por esse motivo, a coluna não veio acompanhada do arquivo de áudio. Reinaldo escreve com a propriedade de quem já esteve no cargo e enumera uma série de recomendações para que o novo titular da nossa segurança não sofra os mesmo contratempos que ele sofreu, em função do cargo, e pelas características do atual governo do Estado. Leia, opine e compartilhe.

Reinaldo de Almeida César*

Prezado Secretário Wagner Mesquita,

Cumprimento-o pela efetivação no cargo de Secretário de Segurança Pública do Paraná.

Acredito, sinceramente, que você está preparado para honrar a investidura.

Reconheço-lhe portador das qualidades de liderança, equilíbrio, discrição e capacidade de gestão, requisitos fundamentais para titularizar o cargo.

A meu ver, o governo acertou ao efetivá-lo na função.

Economia

É da sabedoria popular que conselho, se fosse bom, seria vendido. Pura tolice.

Como seu amigo, torcendo por você, vou me permitir aqui lhe endereçar alguns conselhos, caso você realmente queira permanecer no cargo até o final desta gestão.

Afinal, prefiro outro dito popular: “bom conselho desprezado, há de ser muito lembrado”.

Sucesso, sorte. Que Deus lhe ilumine o caminho.

O Paraná espera, com angústia, que você faça uma boa gestão.

Apresento-lhe pois, além da recomendação de sempre preservar a tolerância e redobrar a paciência, o seguinte decálogo, esperando que ele possa lhe ser de grande valia e utilidade:

1. NÃO tenha a audácia de que falava Danton, no tempos revolucionários. Não lute de forma ostensiva, dentro e fora do governo, em público e em entrevistas, por recursos, investimentos, melhores salários e contratações para o setor. A visão obtusa e a mente apequenada de alguns não compreenderão que é exatamente isso que a sociedade espera de um secretário de segurança. Desprovidos de raciocínio acharão que você está contra o governo. Consequência, você cairá em desgraça.

2. NÃO aceite participar do processo político nas eleições de prefeito, no ano que vem, seja qual for a tarefa que lhe impuserem. Se fizer tudo o que estiver ao seu alcance, nenhum reconhecimento lhe será atribuído. Se algum fato, mesmo distante de seu comando, sobrevier, você será massacrado, como se responsável fosse.

3. NÃO deixe, porém, de se filiar a um partido político, na primeira oportunidade que tiver. Tentar ser gestor, dedicado, sem pretensão política, não lhe fortalecerá. Pode parecer paradoxo, mas enquanto a sociedade aplaude quem se apresenta de forma apartidária neste setor, conferindo-lhe credibilidade pela ausência de interesses eleitorais, você restará solitário no governo. Partidos políticos tem feudos e os protegem. Sozinho, você será exatamente isso, apenas um personagem solitário de Cervantes. O consolo é que você não será o Sancho Pança.

4. NÃO se desmanche em mesuras e atenções com familiares, supostos familiares e pretensos familiares. Nada disso lhe soma um ponto sequer na sua conta corrente dentro do governo. Quando você estiver em dificuldades, será abandonado à própria sorte, sem escrúpulos e sem uma nesga de gratidão sequer.

5. NÃO confie naquilo que chamam de “colegas de equipe”. No ambiente de governo há um recôndito de falsidades e interesses inconfessáveis. Governo não é ordem dos cavaleiros de Malta. Não é fraterno, é fratricida. Quando você menos imaginar, mesmo aqueles que há mais tempo você conhecia, num final de semana qualquer, estarão de forma covarde, na sua ausência, trabalhando para enfraquecê-lo, fazendo escorrer as mais torpes intrigas.

6.  NÃO se afaste jamais dos amigos do governo, fora do governo, aqueles que se reúnem em fartas mesas de queijos e vinhos caros ou para bebericar o champagne francês nos chiques condomínios do litoral. Eles são corneteiros insaciáveis e possuem doses de encanto que você jamais superará com sua dedicação, lealdade e trabalho.

7.  NÃO se interponha no que não lhe diga respeito, mesmo vislumbrando que o andamento de certos assuntos está descambando para o perigo. Você fará isso bem intencionado, pela sua formação jurídica e pela sua experiência de delegado federal, tentando proteger o governo, imaginando-se leal. Aventureiros, embusteiros e palpiteiros surgirão do nada, para semear a ideia de que você está vestindo fantasia de estorvo, atrapalhando processos e não deixando acontecer coisas que julgam importantes. O que lhe confortará a alma e o espírito, depois que deixar o governo, será constatar que você tinha razão.

8. NÃO se insurja contra tentativas de comandos paralelos na sua pasta, venham de onde vier. Sei que isso é muito difícil, pois policiais militares e civis tem faro apurado para perceber quem de fato manda na casa. E a pior coisa que pode ter, é um secretário débil, acanhado, que não tem real poder de mando. Por outro lado, tentar assumir a plena responsabilidade pelo comando da secretaria – o que seria de todo recomendável, no plano republicano – será visto como algo afrontoso ou inaceitável, para alguém que chegou agora e logo quer sentar na janela.

9. NÃO tente ser mais eloquente ou mais vibrante que autoridades constituídas quando discursar em solenidades, mesmo que isso seja consequência natural por dominar o assunto, pela sua formação técnica. Correrá o sério risco de desagradar, por melhor intenção que tenha, ainda que você se derreta em elogios, ao buscar virtudes no governo. Se puder evitar, nem pegue o microfone para discursar. O mesmo vale para a vestimenta que se apresentar. Se possível, use sempre, todos os dias, em todas as solenidades, um mesmo terno azul marinho com camisa branca e gravata da cor marinho, como sempre faz Silvio Berlusconni. Porém, ao invés de trajar Zegna, como o ex-premier italiano, apresente-se sempre com um conjunto da Lojas Colombo, num pisante de marca desconhecida. Vai por mim.

Por fim, talvez a minha mais contundente observação e a mais sublinhada recomendação:

10. NÃO passe noites e finais de semana imerso em preocupações, reuniões, telefonemas e trabalho. Nenhum reconhecimento ou gratidão lhe será salpicado. Nada, nem ninguém, devolverá a você o tempo que deixou de dedicar ao doce convívio com sua esposa e de acompanhar, com emoção, o crescimento de seus filhos.

Saudações.

*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”.

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