Coluna do Reinaldo de Almeida César: Pela punição dos ladrões da educação ‘doa a quem doer’

Reinaldo de Almeida César, em sua coluna desta quarta-feira (22), vê momento histórico para autoafirmação da Polícia Civil do Paraná a partir da operação “Quadro Negro”, que resultou ontem na prisão de empresário e ex-diretor da SUDE; colunista cita o exemplo da atuação “doa a quem doer” das operações da Polícia Federal; pelo caráter abjeto da corrupção (desvio de dinheiro da educação), conjectura o ex-secretário da Segurança Pública, em eventual processo revolucionário, os autores seriam sumariamente fuzilados; ao tempo que exalta o NURCE/Polícia Civil, Almeida César estranha o fato de o governador Beto Richa (PSDB) ter demitido o enxadrista Jaime Sunye Neto, que denunciou o roubo; “Deveria condecorá-lo com a Ordem do Pinheiro do Paraná, pela sua história de vida, que sempre honrou o Paraná. Já vi gente com muito menos brilho e sem nenhum razão, de forma surpreendente e injustificada, receber tal honraria”, testemunha; leia o texto e compartilhe.
Reinaldo de Almeida César, em sua coluna desta quarta-feira (22), vê momento histórico para autoafirmação da Polícia Civil do Paraná a partir da operação “Quadro Negro”, que resultou ontem na prisão de empresário e ex-diretor da SUDE; colunista cita o exemplo da atuação “doa a quem doer” das operações da Polícia Federal; pelo caráter abjeto da corrupção (desvio de dinheiro da educação), conjectura o ex-secretário da Segurança Pública, em eventual processo revolucionário, os autores seriam sumariamente fuzilados; ao tempo que exalta o NURCE/Polícia Civil, Almeida César estranha o fato de o governador Beto Richa (PSDB) ter demitido o enxadrista Jaime Sunye Neto, que denunciou o roubo; “Deveria condecorá-lo com a Ordem do Pinheiro do Paraná, pela sua história de vida, que sempre honrou o Paraná. Já vi gente com muito menos brilho e sem nenhum razão, de forma surpreendente e injustificada, receber tal honraria”, testemunha; leia o texto e compartilhe.
Reinaldo de Almeida César*

A Polícia Civil teve um momento histórico de afirmação, ontem, ao deflagrar a “Operação Quadro Negro”, tocada pelo NURCE – Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos, dirigido pelo competente delegado Renato Figueroa.

Ao conduzir a investigação e representar por mandados de prisão e de busca e apreensão em desfavor de pessoas de reconhecido relacionamento com poderosos, a Polícia Civil deu um passo importante para se consolidar institucionalmente, afastando-se da imagem de corporação que seria controlada pelo Executivo.

Processo assemelhado, com outras proporções é evidente, passa a PF nos seus últimos vinte anos, toda vez que mostra altivez e independência na apuração de infrações penais, mesmo que no ambiente delitivo apareçam personagens de notório poder.

São incontáveis os casos em que a PF já derrubou, por investigação isenta, figuras de relevo no mundo político e empresarial.

O resultado disso foi que a PF passou a receber, cada vez mais, manifestações de apoio e de credibilidade na opinião pública, formando assim seu maior patrimônio, o moral.

Economia

Aliás, em ótima e recente entrevista ao ESTADÃO, o Diretor-Geral da PF, delegado Leandro Daiello Coimbra, cunhou uma frase muito correta, ao dizer que a Polícia Federal investiga “doa a quem doer”.

Nada mais fez o dirigente da PF do que repetir, letra por letra, a frase que a própria Presidenta de República disse, à exaustão, nos debates e programas eleitorais na campanha de reeleição do ano passado, enaltecendo a atuação da PF como algo positivo em seu governo.

Lembrando a frase já dita com as mesmas cores e no mesmo tom pela Presidenta Dilma, o diretor-geral da PF apenas reforçou o que todos já sabem, ou devem saber: a boa polícia judiciária é isenta, investiga fatos e não pessoas.

É como dizia Marcio Thomaz Bastos, “a Polícia Federal é republicana, ela não protege e nem persegue ninguém”, em frase que aliás foi entronizada em lugar de destaque na sede da associação dos delegados da PF, em Brasília, no auditório que leva o nome do ex-Ministro da Justiça, em justa homenagem que lhe foi feita, por sorte ainda em vida, exatamente pela candente defesa que ele sempre fazia da independência investigativa da PF.

Por isso, deve-se saudar, por aqui, a ação da Polícia Civil que meteu atrás das grades maus dirigentes e empresários inescrupulosos flagrados desviando recursos que eram destinados à construção de escolas e no fortalecimento da educação pública.

Tenho com meus botões que em processos revolucionários os atos de corrupção e de desvios de recursos públicos da educação ou da saúde, talvez até posicionem seus autores em condição de primazia nas execuções por fuzilamento, pelo caráter abjeto da pilhagem.

Em boa hora, portanto, a Operação “Quadro Negro” da Polícia Civil.

Espera-se apenas que a investigação da rapinagem na SUDE (antiga Fundepar) prossiga “doa a quem doer”, tendo o rigoroso acompanhamento e fiscalização do Ministério Público.

Um bom começo é entender como uma jovem microempreiteira, sem tradição no mercado e que sucede outra recém falida, conseguiu conquistar tantos contratos para obras na SUDE. Que alquimia é essa?

Se a investigação for pra valer, acreditem, será um momento alto para a Polícia Civil e para a correta gestão do delegado-geral Julio Reis. Pode fazer história.

Como nem tudo são flores, de muito triste nisso tudo, além da certeza do descarado desvio de verbas da educação, foi constatar que o denunciante que botou fim à roubalheira foi o primeiro a ser punido, com a demissão da função que ocupava, mesmo tendo agido com honestidade, espírito público e levado de forma discreta as denúncias ao seu superior, como convém nesses casos.

Pra ficar ainda pior, trata-se de Jayme Sunye Neto, orgulho do Paraná por décadas como enxadrista reconhecido no Brasil e no exterior, atleta olímpico, sempre bem posicionado no “ranking” internacional, um daqueles “bichos do Paraná” que a gente jamais esquece.

Fico curioso para saber o que o governador Beto Richa e o secretário Pepe Richa, engenheiros civis de formação, ouvirão de seus colegas, sobre esta injusta demissão, quando forem à sede do quase centenário e sempre importante Instituto de Engenharia do Paraná, presidido até recentemente pelas mãos honradas de Jayme Sunye Neto.

O governo deveria ter mantido Jayme Sunye Neto no comando da SUDE e, ainda mais, na primeira oportunidade, deveria condecorá-lo com a Ordem do Pinheiro do Paraná, pela sua história de vida, que sempre honrou o Paraná.

Já vi gente com muito menos brilho e sem nenhum razão, de forma surpreendente e injustificada, receber tal honraria.

O Paraná, às vezes, parece estar de ponta-cabeça.

*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”.

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