Coluna do Reinaldo de Almeida César: Cadetes da PM são constrangidos a dançar valsa em bailes de debutantes

Reinaldo de Almeida César, em sua coluna desta quarta-feira, lamenta a falta de uma política de segurança pública no Paraná e lamenta que a PM obrigue os oficiais cadetes a dançarem valsas em bailes de debutantes; colunista também observa que Beto Richa, até agora, não efetivou o titular na Segurança Pública; por fim, Almeida César vai ao fundo do baú para mostrar que relações republicanas entre adversários políticos sempre existiram; "Roberto Requião, como governador, recebeu em Palácio ou visitou na prefeitura, seu histórico adversário eleitoral Beto Richa, então prefeito da Capital", recorda, ao justificar seu entusiasmo pela união entre Ratinho Júnior e Gustavo Fruet em prol dos curitibanos; leia o texto e compartilhe.
Reinaldo de Almeida César, em sua coluna desta quarta-feira, lamenta a falta de uma política de segurança pública no Paraná e lamenta que a PM obrigue os oficiais cadetes a dançarem valsas em bailes de debutantes; colunista também observa que Beto Richa, até agora, não efetivou o titular na Segurança Pública; por fim, Almeida César vai ao fundo do baú para mostrar que relações republicanas entre adversários políticos sempre existiram; “Roberto Requião, como governador, recebeu em Palácio ou visitou na prefeitura, seu histórico adversário eleitoral Beto Richa, então prefeito da Capital”, recorda, ao justificar seu entusiasmo pela união entre Ratinho Júnior e Gustavo Fruet em prol dos curitibanos; leia o texto e compartilhe.
Reinaldo de Almeida César*

A Gazeta do Povo, em matéria de capa no último sábado, traz a dura verdade sobre o desmantelo da segurança pública em nosso Estado.

Desde 2010 eu tenho falado e escrito que há uma equação dramática a ser enfrentada pelo governo. A população do Paraná cresce em proporção inversa ao do efetivo policial do nosso Estado. Na mesma medida do crescimento da população, só mesmo o incremento da taxa dos crimes violentos, homicídios, latrocínios, roubos e crimes sexuais.

Em outras palavras, população e crimes em franco crescimento, e na outra ponta efetivo policial cada vez menor. Se estivéssemos visualizando um gráfico, seriam setas nítidas, carregadas em tintas, em sentido contrário.

Também perdi a conta das vezes em que já alertei que o Paraná é o pior estado da federação na relação entre delegados de polícia e população.

Volto a dizer, o que tantas vezes já disse. Há comarcas no Paraná sem a presença de delegados. Isso é gravíssimo.

Economia

Na mesma matéria da Gazeta, fala-se em “vaquinha” de comerciantes locais para conserto de viatura da PM, na falta de material em carceragens e delegacias e na nomeação de escrivães “ad hoc” para trabalhar em inquéritos, cedidos pelas prefeituras. Um horror.

Como bem lembrou, na mesma reportagem, Claudio Marques Rolim e Silva, presidente do sindicatos dos delegados – um dos mais combativos e inteligentes líderes sindicais que conheci até hoje – no Paraná “alguns poderes nadam em dinheiro, enquanto um serviço básico, como a segurança pública, está à deriva, representando um risco à sociedade”.

Enquanto assistimos ao desmantelo da segurança pública, com assaltos a bancos em Borrazópolis, onde quase 50 reféns foram usados como escudo humano, num quadro de cangaço moderno, cadetes oficiais da PM são obrigados e constrangidos a dançar valsas em festas de debutante. É o fim dos tempos.

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Já passou da hora do governo confirmar a posse efetiva de Wagner Mesquita na função de Secretário de Segurança, dando-lhe condições orçamentárias e materiais para desempenhar essa dura missão.

Um bom começo, seria enfim convocar os aprovados nos concursos da PM e os selecionados no concurso de delegado da Polícia Civil, todos aptos a prosseguir nos atos de chamamento, nomeação e posse.

Se nada for feito, com investimentos vigorosos nesta área da segurança pública, o Programa PARANÁ SEGURO, lançado em agosto de 2011, será apenas uma logomarca, concebida pelo talento criativo dos irmãos Nenê e Gugu Guimarães, da G8.

Pior que isso, será apenas uma logomarca que, desbotada e esmaecida, poderá revelar um engodo.

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Os áulicos do poder ficaram ouriçados com o que escrevi na semana passada sobre os movimentos de Gustavo Fruet e Ratinho Junior e, mantendo a vocação para carregar a liteira no Palácio, logo se apressaram em perguntar, com ironia, se eu seria secretário de Fruet.

Não, não serei. Lamento desapontá-los.

A minha amizade sincera com Gustavo Fruet faz com que ele seja poupado deste convite, por ele mesmo saber que eu jamais aceitaria. Felizmente, estou imunizado por um insuperável desinteresse de participar novamente de qualquer gestão pública.

É fato que o prefeito Gustavo Fruet honra-me com uma amizade pessoal e familiar há mais de trinta anos, originada na convivência na Faculdade de Direito e no movimento estudantil, nos nossos “verdes anos”, como diria o escritor paraibano José Lins do Rego.

Diga-se, de passagem, amizade que nunca foi abalada ou interrompida, a qualquer título ou a qualquer tempo.

Nem mesmo quando, em 2012, dias antes de sua filiação ao PDT para disputar o cargo de prefeito, tentei demovê-lo dessa ideia, a pedido do Palácio, numa longa conversa na minha residência. Jamais vou me esquecer o que ele, profético, me disse na ocasião, e que se confirmou logo ali na frente. Deixa pra lá, isso é tópico para um livro de memórias que ando escrevendo.

Estivemos juntos em momentos felizes, quando transmiti a ele a presidência do Centro Acadêmico “Hugo Simas” ou quando colamos grau, mas também em momentos tristes e de superação. Estava com Gustavo e seus familiares no Hospital Vita, na madrugada em que o médico Randas Batista nos deu a notícia da morte de Maurício Fruet. Anos depois, numa outra madrugada fria e chuvosa, agora em Ponta Grossa, foi Gustavo quem me deu amparo, na dor que eu sentia ao velar o corpo do meu querido pai.

Essa desinteressada amizade não me tira a liberdade de falar sobre o prefeito Gustavo Fruet, sobre erros e acertos em sua gestão e sobre sua inquestionável integridade e retidão de caráter.

Quando enalteci o fato de se reunirem Gustavo Fruet e Ratinho Junior para tratarem de interesses de Curitiba, quis louvar o caráter republicano e o elevado interesse público do encontro, assim como foram muito corretas e admiráveis as vezes em que Roberto Requião, como governador, recebeu em Palácio ou visitou na prefeitura, seu histórico adversário eleitoral Beto Richa, então prefeito da Capital.

Volto a dizer, espero ver Fruet e Ratinho ainda juntos outras vezes, em favor de Curitiba e do Paraná.

Aliás, espero até mais.

Que nos próximos colóquios, eles chamem também o Ney Leprevost e o Requião Filho para que os quatro possam desenhar um cronograma de sucessão de boas gestões para os próximos anos em Curitiba, honrando a tradição de termos sempre bons prefeitos, desde Ivo Arzua e Omar Sabbag, apenas para ficar nos últimos cinquenta anos.

*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”.

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