Não é por 20 centavos, é por direitos!

Manifestantes cravaram nas portas do Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná, os motivos das manifestações em todo o país; a onda de protesto vai além do preço da tarifa de ônibus, mas a velha mídia ou é incompetente para interpretar ou age com má-fé, disputando o rumo do movimento com os partidos políticos; eu, particularmente, acredito na segunda hipótese; campanha contra as legendas flerta com fascismo e ausência das agremiações é a raiz para os confrontos ocorridos em várias capitais; foto: Adriano Rima.
Manifestantes cravaram nas portas do Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná, os motivos das manifestações em todo o país; a onda de protesto vai além do preço da tarifa de ônibus, mas a velha mídia ou é incompetente para interpretar ou age com má-fé, disputando o rumo do movimento com os partidos políticos; eu, particularmente, acredito na segunda hipótese; campanha contra as legendas flerta com fascismo e ausência das agremiações é a raiz para os confrontos ocorridos em várias capitais; foto: Adriano Rima.
Tomo a foto acima, feita por Adriano Rima, como ponto de partida para tentar explicar a onda de protestos em todo o país: Não é por 20 centavos, é por direitos!, diz um dos recados deixado pelos manifestantes ontem à  noite na porta do Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná, minutos antes do confronto com o Batalhão de Choque.

Os jornalões e muitos formadores de opinião desavisados acordaram nesta terça-feira, 18, atordoados sem saber ao certo o que aconteceu na noite de ontem. Muitos creram que se tratava de um protesto pela redução da tarifa do ônibus. à‰, mas como diz o cartaz na foto, mas também é por direitos.

Que direitos são esses? O direito de ir e vir, sempre simpático a todos e que nos dá a sensação de liberdade plena; de acesso à  educação de qualidade; contra o pedágio nas rodovias; contra Beto Richa; contra o prefeito Gustavo Fruet; contra Dilma Rousseff; contra a Copa do Mundo; etc.

Nesta pauta ampla, não houve espaço para uma lembrança sequer do ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, outrora super-herói da direita brasileira. Mas como o julgamento do mensalão já era, como previra o presidente da OAB-PR, Juliano Breda…

Volto à  questão da mobilização. Os barões da mídia achavam que estavam “mandando” na pauta do movimento que sacode o país de Norte a Sul. Há uma evidente disputa de rumo no movimento. Só um tongo para não sacar essa. Quem sacou essa gritou repetidas vezes a palavra de ordem ontem no protesto de Brasília: Globo, fascista!!.

Quando o assunto é atingir a presidenta Dilma Rousseff, há editoração forte; vide as capas de jornais e telejornais matutinos que mostraram jovens de caras-pintada invadindo o Congresso Nacional. Por que não mostrou o mesmo movimento tomando o Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná?

Economia

Mais de 15 mil pessoas ocuparam as ruas centrais da capital paranaense, ontem, com uma pauta difusa !“ como de resto do país. Não havia pauta única de reivindicação. Não havia direção política, por isso resultou no confronto com o Batalhão de Choque.

Enquanto a velha mídia condena a presença de partidos políticos nas manifestações, eu os considero fundamentais para a segurança dos próprios manifestantes. O surgimento das agremiações partidárias, se analisarmos sua etimologia, nos remete à  parte da sociedade, à  organização da mesma para reivindicar demandas reprimidas.

Na ausência dos partidos políticos, como nas sociedades tribais, os conflitos são resolvidos na base da bala, da eliminação física do oponente. Mesmo com todos os problemas, os partidos são a maneira mais democrática de mediar atritos. Ser contra eles é flertar com o fascismo e voltar à  Era das Trevas.

A pancadaria foi verificada em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília. E passeatas ocorrem em várias outras capitais e cidades médias do país.

Em 1992, no impeachment do ex-presidente, também havia dezenas de palavras de ordem e bandeiras de luta. O próprio movimento de rua se encarregou de afunila-las numa única bandeira de luta, que unificou e sintetizou todo o sentimento da sociedade na época: Fora Collor!!. à‰ importante frisar que essa reivindicação só foi atendida depois de milhões na rua e de um consenso social e partidário. A velha mídia tentou segurar o então presidente até quando pôde. Só passou defender o impedimento quando não tinha mais jeito de esconder milhões nas ruas.

Vinte anos depois temos um novo fator no jogo democrático: a internet e as redes sociais, que facilitam um bocado a mobilização da sociedade; a convocação e confirmação em uma passeata estão a um clique de nós.

Enquanto eu escrevia esse arrazoado, percebi que o movimento pela redução da tarifa já marcou um novo protesto em Curitiba para esta quinta-feira, dia 20, a partir das 18 horas, na Boca Maldita. Em menos de 24 horas, cerca de 34 mil pessoas confirmaram presença. (Favor não confundir com a 2!ª Farofada do Transporte!, na sexta, 21, que tem 44 mil confirmações).

Para fechar, uma dica aos governantes que possuem a força coerção a seu lado: o movimento que está nas ruas de todo país é igual massa de pão, quanto mais se bate mais se cresce. à‰ bom lembrarmos que as manifestações só ganharam a dimensão que ganharam — graças à s redes sociais — porque houve um sentimento de solidariedade à  juventude que foi reprimida pela polícia do tucano Geraldo Alckmin no protesto de São Paulo.

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