à€ sombra da eleição presidencial, movimento estudantil reúne 250 mil no Chile

do Opera Mundi

 Confech calcula que 250 mil pessoas, entre estudantes e mineiros, participaram do protesto. Foto: Victor Farinelli/Opera Mundi.
Confech calcula que 250 mil pessoas, entre estudantes e mineiros, participaram do protesto. Foto: Victor Farinelli/Opera Mundi.
Na primeira marcha do ano, o movimento estudantil chileno mostrou novamente uma forte capacidade de mobilização, reunindo cerca de 150 mil pessoas em Santiago e mais de 250 mil em todo o país pedindo uma educação pública e gratuita de qualidade. Os números, divulgados pela Confech (Confederação dos Estudantes do Chile), diferem muito dos apresentados pela polícia, que fala em somente 50 mil na capital.

No entanto, as eleições nacionais, marcadas para 17 de novembro, fizeram sombra à  manifestação, já que três antigos líderes do movimento e que deverão disputar cargos legislativos no fim do ano, estiveram presentes e se envolveram em polêmica.

Camila Vallejo, Giorgio Jackson e Camilo Ballesteros comandaram as grandes marchas estudantis que mobilizaram o país em 2011 – algumas delas chegando a reunir até 500 mil pessoas. Agora, já afastados das lideranças, concorrerão ao cargo de deputado pela Região Metropolitana de Santiago.

A presença deles gerou manifestações de descontento, principalmente depois que um folheto apócrifo passou a circular entre os manifestantes, mostrando fotos de Camila e Jackson como se estivessem manifestando apoio à  ex-presidente socialista Michelle Bachelet com a mensagem: Estudantes mobilizados por uma nova maioria!. Curiosamente, Bachelet foi muito criticada pelos estudantes desde o início da crise educacional, inclusive pelos líderes citados no folheto, por também não ter avançado no tema da educação pública gratuita em seus quatro anos de governo (2006-2010).

Panfleto associando ex-líderes do movimentoe studantil com candidatura Bachelet. Foto: Victor Farinelli/Opera Mundi.
Panfleto associando ex-líderes do movimentoe studantil com candidatura Bachelet. Foto: Victor Farinelli/Opera Mundi.
O folheto dava a entender que os dois apoiavam a candidatura de Bachelet, que pretende voltar ao Palácio de La Moneda este ano. Minutos depois, alguns grupos presentes na marcha passaram a entoar cânticos exigindo explicações. Um deles dizia: Giogio e Camila, estão com Bachelet ou com a educação gratuita?!.

Economia

Rapidamente, os candidatos trataram de desmentir a mensagem o boato. Através de sua conta de Twitter, Jackson assegurou que o folheto me surpreendeu, e quem produziu isso jamais contou com a minha autorização, ou do movimento Revolução Democrática (fundado por ele em 2012, após deixar a Confech)!.

Por sua parte, Camila Vallejo disse desconfiar de que a peça pudesse ser uma montagem no intuito de desestabilizar o movimento estudantil. Espero que quem produziu esta montagem apareça e esclareça porque está enviando mensagens políticas falsas e sem nosso consentimento!, afirmou a geóloga e militante do Partido Comunista.

Entrevista de Bachelet

A jornada foi iniciada com uma surpresa nas bancas do país. A revista semanal The Clinic! trazia uma entrevista exclusiva com Bachelet, onde ela afirma que o país precisa de uma nova constituição, uma das demandas defendidas pelos estudantes.

As palavras da candidata, porém, ainda não convenceram o movimento, já que seu nome foi um dos mais citados entre as críticas cantadas pelos estudantes. Andrés Fielbaum, presidente da Confech, disse que a Concertação (frente política de centro-esquerda, à  qual pertence Bachelet) esteve 20 anos no poder (entre 1990 e 2010) e nunca pleiteou uma assembleia constituinte. Agora não basta dizer isso numa entrevista, é preciso mostrar um compromisso concreto!.

Fielbaum também se referiu à  declaração de Bachelet de que apoia a gratuidade na educação, mas somente para os setores mais vulneráveis da população, e não para os que podem pagar!. Segundo ele, a candidata precisa conhecer os muitos estudos existentes mostrando que sai mais barato para uma pessoa rica pagar uma mensalidade escolar que os impostos suficientes para financiar a educação gratuita!.

A marcha estudantil se desenvolveu com normalidade entre a Praça Itália até a Estação Mapocho, quando ocorreu o ato final, com os discursos dos principais rostos do movimento. Por volta das 13h15, quando os estudantes começaram a dispersar, também se verificaram os primeiros confrontos entre os carabineiros (policiais militares chilenos) e alguns grupos encapuzados.

Simultaneamente, as primeiras figuras do governo chileno manifestavam suas críticas à  manifestação. O ministro de Defesa e ex-ministro do Interior, Rodrigo Hiznpeter lamentou que os estudantes não reconheçam tudo o que este governo avançou em qualidade da educação!, e também fez alusão aos distúrbios: o movimento estudantil não é capaz de trazer sua opinião sem violência e respeitando a cidadania!. Quando era ministro do Interior, Hinzpeter criou um projeto de lei, em tramitação, que criminaliza marchas e protestos populares, estabelecendo até cinco anos de prisão para os organizadores de eventos que causam distúrbios.

Apoio mineiro

Esta nova manifestação também se destacou por significativo apoio de outros movimentos sociais, sobretudo dos sindicatos de mineiros. A presença dos mineradores foi mais relevante que em outros anos, tanto que o evento foi divulgado pela Confech como sendo uma marcha mineiro-estudantil.

A participação mineira nesta semana de mobilizações havia começado já na terça-feira (09/04), quando os sindicatos paralisaram todas as jazidas da estatal Codelco, e também em algumas privadas. A estatal anunciou que a paralisação gerou perdas de 35 milhões de dólares. A mineração de cobre é responsável por mais de 50% do PIB do país.

A principal justificativa para a paralisação foi o apoio ao movimento estudantil e à  proposta da Confech de estatização das jazidas de cobre em mãos de mineradoras privadas, para financiar a gratuidade no ensino público. A Codelco é dona de somente 33% das minas de cobre do Chile.

Mas não foi a única razão. Os trabalhadores também cobraram do governo de Sebastián Pià±era as promessas feitas pelo presidente em outubro de 2010, quando foram resgatados os 33 trabalhadores da Mineradora San Esteban. Na ocasião, Pià±era garantiu que apresentaria um projeto para melhorar fomentar a segurança no trabalho, especialmente no setor.

Segundo os sindicatos, isso nunca aconteceu. Pià±era usou o resgate de forma midiática, e nunca lançou nenhum projeto para mudar as condições de segurança no trabalho, nem na mineração nem em nenhum outro setor!, reclama Cristián Cuevas, presidente da CTC (Confederação dos Trabalhadores do Cobre).

A entidade contabiliza 37 acidentes graves nas minas do país desde a promessa do presidente chileno nenhum com a cobertura da imprensa como o daquele ano!, lamenta Cuevas.

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